domingo, 5 de maio de 2013

Laranja Mecânica

      Mudando um pouco o foco dos filmes estrangeiros (Después de Lucía, Querida Voy a Comprar Cigarrillos y Vuelvo e El Laberinto del Fauno), vou falar sobre um filme que todo mundo que eu conheço já tinha assistido, e eu ainda não tinha visto de lerda mesmo. Devo dizer que muita gente já falou sobre esse filme, então, em vez de me aprofundar mais na história em si – que, aposto, muitos leitores já estão cansados de conhecer – vou explicitar os meus pontos de vista, mais pra compartilhar com vocês mesmo.

A CLOCKWORK ORANGE (1971)



      Inglaterra, futuro, caos. O cenário é de violência e terror, provocado por gangues juvenis que saem pela noite praticando roubos, estupros e outros tipos de violência gratuita. Uma dessas gangues é a de Alexander DeLarge (Malcolm McDowell), composta por mais três druguies: Pete (Michael Tam), Georgie (James Marcus) e Dim (Warren Clarke). São quatro rapazes bonitos, até, mesmo Dim sendo meio tapado. O hobby deles é sair à noite, ir até a Leiteria Korova e tomar leite-com, que, segundo Alex, aguçava os sentidos e estimulava a “velha ultraviolência”.


      Nessa mesma noite, os quatro espancaram um mendigo, brigaram com outra gangue e foram até a Home, a afastada casa de um escritor, e espancaram-no, além de estuprar sua esposa.
 


      O mais engraçado é que os pais de AlexDad (Philip Stone) e Mum (Sheila Raynor) – não tinham a menor ideia do que o filho fazia à noite, achando, inclusive, que ele trabalhava. Não que seja super incomum que os pais não saibam o que os filhos fazem, mas digo que é engraçado porque eles chegam a tratar o filho como uma criança mesmo.


      Bom, voltando à história, Alex e seus druguies não andavam em um clima muito bom, porque ele começou a achar que eles queriam lhe retirar a autoridade. Depois de bater nos três e achar que estava tudo ok, foram a um bar e Georgie lhes contou o plano para aquela noite: ir a um SPA afastado da cidade em que morava apenas uma mulher muito rica, e roubar seus pertences.

      Eles tentaram entrar do mesmo jeito que na casa daquele casal sobre o qual falei ali em cima, dizendo que tinham sofrido um acidente e queriam usar o telefone. Como a mulher não acreditou, não os deixou entrar, e, ainda, ligou para a polícia. Alex, sem desistir, pediu para os druguies ficarem para o lado de fora e conseguiu entrar na casa. Entrou em luta corporal com a mulher e a atingiu com uma escultura. Quando foi abrir a porta para os companheiros, foi atingido por um deles, e deixado no local para ser preso.


      E foi, mesmo. E pior, a mulher que ele atingira na casa morrera com o golpe. Alex foi condenado a 14 anos de prisão pelo homicídio, e foi para o Presídio Parkmoor.



      Lá, por incrível que pareça, havia mais paz do que na rua. Alex puxou muito o saco do clérigo pra provar que era um rapaz de bem, pois queria se submeter ao tratamento Ludovico: algo de que ele ouvira falar e que reabilitava a pessoa num prazo minúsculo, e, ainda, a impedia de praticar outros crimes. Claro que ele só queria mesmo sair da prisão o mais rápido possível, por isso dissimulou bastante até conseguir ser escolhido como cobaia.

      Basicamente, o tratamento consistia em criar na pessoa uma aversão ao crime através da exposição de cenas absurdamente violentas. Claro que o negócio ainda era experimental e tinha cunho político, pois o partido dominante queria se reeleger através da diminuição massiva da violência.

(Método Ludovico)

      Enfim, acho melhor parar de contar por aqui. Mas devo dizer que muita coisa mudou depois dos dois anos em que Alex ficou fora da sociedade, e, quando ele saiu, já nem sabia se reconhecia mais o mundo em que viveu.

      Bom, eu particularmente adoro os filmes do Stanley Kubrick, e nem sei por que ainda não tinha assistido este, que é, de longe, o mais falado do diretor. Apesar de ele situar sua história em uma Inglaterra futurista – e a questão do futuro caótico aparece em outros filmes também, como no Dredd (1995 e 2012) – a “politicagem” que envolve as atitudes das autoridades estatais foi a mesma ontem, é a mesma hoje e será a mesma de amanhã.

      Afinal, a técnica Ludovico não foi criada pela persecução da paz social ou do interesse público, e sim pelo interesse político do partido que governava a Inglaterra, e que não queria perder a próxima eleição sob o argumento de que perdera o controle da sociedade.

      Certo, de política é isso aí. Assistindo ao filme, como não pode deixar de ser, prestei bastante atenção no Alex, e não consegui odiá-lo. Sim, ele é cruel, frio, egoísta, insensível, arrogante, egocêntrico, dissimulado etc. MAAAS, como todo mundo tem lá seus lados positivos, ele é um rapaz bonito, educado, carinhoso (ainda que apenas com os pais e sua cobra de estimação), portador de uma invejável desenvoltura e dotado de um ótimo gosto musical – Ludwig van Beethoven é seu grande ídolo.


      (Assim, deixando bem claro que não defendo o que ele faz durante o filme, ok? Só acho que ele tem qualidades também).

      E acho, além disso, que Alex foi uma vítima no fim da história. Quem já viu sabe, quem ainda não viu tem que ver pra saber, mas o que aconteceu com ele não foi legal. E pode nem ter dado resultado – afinal, o fim do filme é bastante subjetivo, e cabe a cada um de nós concluir o que aconteceu ao Alex.

      Enfim, mudando um pouco o que sempre digo, não vou dizer que super recomendo esse filme e talz, afinal, seria chover no molhado, né? Até a próxima.

      CURIOSIDADES:

A Clockwork Orange voltou “à moda” porque uma cópia restaurada esteve em cartaz no CineSESC, aqui em São Paulo. Então, todo mundo voltou a falar sobre a obra, como não podia deixar de ser. Não foi difícil encontrar curiosidades sobre o filme, então, deixo aqui o link do Omelete, que traz 10 curiosidades do filme:


Ah, mas não posso deixar de ressaltar, ainda que isso esteja aí no link, que achei um barato algumas palavras que os atores usam durante o filme. Pesquisei e vi que se trata de uma língua fictícia, chamada Nadsat, que consiste em uma mistura de inglês operário, russo e gírias londrinas;

Além disso, A Clockwork Orange, como todo mundo sabe, foi inspirado no livro de mesmo nome escrito por Anthony Burgess em 1962. O que eu não sabia (e não sei se muita gente sabia) era que o estupro da moça na Home foi baseado em um fato real: em 1944, a primeira esposa de Burgess, Lynne, foi estuprada por quatro rapazes;

Pra quem gosta de música: o Sepultura (banda de que gosto muito \m/) inspirou-se na história de Laranja Mecânica em seu 11º álbum, “A-Lex”, de 2009. É um trocadilho com o nome de Alex e, em latim, a expressão significa “sem lei”;

Outro link interessante que encontrei é do IMDB: mesmo todo em inglês, são mais de 20 perguntas respondidas sobre o filme (contendo alguns spoilers, então, cuidado). Achei bem legal:


Por fim, nunca é demais pedir pra vocês curtirem a página do blog no facebook, né? O link tá ali embaixo, e já montei lá um álbum com várias fotos do filme, inclusive dos atores nos bastidores. Vejam lá!


Resenha por: Stephanie Eschiapati