sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Planeta Terror

      Pelo título, dá pra imaginar que se trata de um filme apavorante, medonho e desesperador, sim? Só que não.

PLANET TERROR (2007)



      Tudo começa com uma bonita dançarina, Cherry (Rose McGowan) que decide dar um up na vida e sair dessa vida de bordel. Ela vai caminhando e sofre um pequeno acidente, após a brusca passagem de um comboio militar.

      O filme passa, então, a falar sobre um casal de médicos, William (Josh Brolin) e Dakota (Marley Shelton – que eu particularmente adoro desde o filme Sugar & Spice – Atraídas pelo Perigo) se preparando pra mais uma noite de plantão no hospital da cidade. Eles se odeiam, e isso fica bem evidente; inclusive uma troca de SMS dá a impressão de que a médica já tá envolvida com uma outra pessoa.


      Depois, passamos a entender o porquê daquele mega comboio militar: Muldoon (interpretado pelo grande Bruce Willis) encontra Abby (Naveen Andrews) negociando “na surdina” uma grande arma bioquímica e, pra impedir essa negociação (na qual não teria nenhum lucro), atira nos tanques em que o gás está contido e espalha um vírus devastador pela cidade.



      Enquanto isso, Cherry, com a perna machucada, encontra o restaurante de JT (Jeff Fahey), e lá limpa seu ferimento. Lá reencontra El Wray (Freddy Rodriguez), um antigo namorado. Ah, no restaurante também aparece ninguém menos que a Fergie, com o fim de tentar arrumar o carro.



      (Sim, a história parece confusa mas é bem assim mesmo, vários núcleos temáticos diferentes que têm como única ligação a cidade infectada onde estão).

      A Fergie vai embora do restaurante e o carro quebra de novo: ela é a primeira atacada pela legião de zumbis, ou seja, as vítimas daquela arma química liberada. El Wray e Cherry, que saem do restaurante rumo à cidade, veem com muita estranheza uma movimentação na estrada (no caso, os caras comendo o cérebro da Fergie), o rapaz se distrai e capota a caminhonete. Cherry sai do carro e é atacada por zumbis, que lhe arrancam uma perna.

      O casal ruma ao hospital da cidade, que já tem vários infectados no local (mas nos estágios iniciais). Ninguém sabe o que está acontecendo. Cherry vai para a sala de cirurgia e chega a polícia: o xerife Hague (Michael Biehn), interrogando El Wray e não acreditando na explicação que ele dá sobre os fatos, leva-o preso. É aí que a infecção toma proporções maiores, e a coisa sai de controle.


      O pessoal todo que já apareceu no filme vai ao restaurante de JT, inclusive El Wray, que fica sob custódia feroz do xerife. Ele se lembra de Cherry no hospital e corre a buscá-la e, como não podia deixar de ser, começa uma das cenas de luta mais legais e absurdas do filme: Wray mata 9362837 zumbis com duas faquinhas apenas, e consegue desviar do sangue, passar pelo hospital todo e resgatar Cherry, que teve uma das pernas amputada. DETALHE: Wray coloca uma das pernas da mesa do quarto pra ser a prótese dela.


      A cena corta, então, pra Dra. Dakota. Eu já disse que ela e o marido William se odiavam, certo? Depois de uma briga, em que a intenção dele era matá-la, ele dá várias anestesias nas mãos dela, que ficam completamente inúteis. Agora vocês imaginem a cena de ela saindo correndo do hospital, tentando abrir o carro e dirigir, praticamente sem as mãos. Hilário.

      O resto do filme é um sem fim de cenas absurdamente cômicas. O filme é 100% trash, daqueles que espirram sangue até no rosto de quem tá vendo o filme. Os sobreviventes se juntam pra tentar acabar com aquele monte de zumbis, que estão cada vez em maior número e mais famintos por carne fresca.

      O último detalhe que eu tenho que contar porque não é spoiler é a prótese final de Cherry. Em uma luta, aquela perna da mesa quebra; Wray coloca no lugar, nada mais, nada menos, que uma METRALHADORA no lugar. Isso, que se dane a lógica.


      Eu já era fã do Robert Rodriguez desde Machete (que, oportunamente, vai ser comentado por aqui, e cujo trailer aparece no começo de Planet Terror), que, cá entre nós, também é super mega trash. E quando vi que Planet Terror era um dos filmes da parceria entre Rodriguez e Tarantino, corri pra assistir. Grindhouse foi o nome dado a essa parceria. Tarantino, inclusive, aparece em Planet Terror, bem no finalzinho, e é bem engraçado. O outro filme da dupla é Death Proof, a que assistirei assim que possível. O Rodriguez tem como especialidade esse estilo sanguinário de filmes, e, pelo que pesquisei, Tarantino se interessou. Pra mim, pelo menos, deu muito certo.


      Outra coisa legal em Planet Terror é a forma como foi filmado: dá a impressão de que o filme é muito mais antigo (estreou em 2007), devido aos efeitos especiais meio podres nas cenas de luta e, entre as cenas, dá-se a impressão de que você está no cinema, e o rolo do filme dá problema. A ambientação ficou perfeita, pelo menos pra mim, porque você acaba dando risada desse “defeito”.

      Enfim, super recomendo Planet Terror. Por mais que a ideia não seja de assustar, na boa, achei melhor que muito filme de zumbi/terror moderninho por aí. Até.


Resenha por: Stephanie Eschiapati

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A Profecia (1976)

      Foi uma novidade assistir A Profecia de 1976, visto que eu só tinha assistido ao de 2006. Se eu não me engano, assisti o mais recente exatamente no dia 06/06/06, quando lançou no cinema. E, por incrível que pareça, prefiro a versão mais nova em face da antiga. Isso quase nunca acontece, mas... dessa vez o filme novo, ao meu ver, conseguiu superar a grandeza do antigo. Dou 4,5 estrelas para A Profecia de 2006, e 4 estrelas para esse; a diferença não é muita, mas posso afirmar com veemência que o de 1976 também é um grande filme.

THE OMEN (1976)


(Tradução: Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta: pois é o número de um homem; e seu número é 666 - Livro do Apocalipse)

      Pelo nome, já percebemos que se trata de alguma coisa do mal, mas, de forma contrária, é com outra aura que o filme começa: com o bem triunfando, de certa forma. A história começa com um casal, Robert (Gregory Peck) e Kathy (Lee Remick), que estão prestes a ter um filho; já no hospital, na hora do parto, vem a triste notícia - os médicos informam a Robert que o bebê nasceu, mas respirou apenas por alguns segundos (ou seja, morreu). Nesse mesmo contexto, aparece um padre, apresentando a Robert um outro bebê, implorando para que ficasse com ele. O padre informa que, na mesma hora da morte do filho de Robert, a mãe do outro bebê também morreu, e ainda afirma que isso é obra de Deus entregando um novo filho a ele. Consternado, Robert decide acatar o pedido do padre e ficar com o bebê, sem informar, porém, sua mulher de que se tratava de outra criança.


(Robert)

      O tempo passou, a criança cresceu, e eles sempre foram felizes. Nunca houve algum problema em relação ao garoto. Aliás, seu nome é Damien (Damien, Demon, Demônio... é por aí que começamos a ver a relação do menino com o mal). Tudo ocorreu normalmente bem até o aniversário de 5 anos de Damien. É a partir daí que começam a ocorrer fatos sombrios, mas ninguém pensa e nem imagina em relacionar esses fatos ao garoto. Antes da festa de aniversário, o filme ainda mostra algumas fotos da família, com o intuito de demonstrar que, acredito eu, até o diabo consegue se revestir de uma bondade extraordinária com a intenção de disfarçar seu único objetivo de trazer o mal. Um pai lindo, uma mãe linda e um filho lindo: quem um dia imaginaria que a típica família perfeita traria problemas para todos que se relacionassem com eles? 





     Após o aniversário, uma nova babá é contratada pela família: Senhora Baylock, que considero mais assustadora do que qualquer outro ser do filme. Ela é uma apóstata de Satanás e, agora em contato com a criança, decide protegê-la de tudo e todos que venham a fazer alguma tentativa de destruir a semente do mal.



      Pelo o que eu entendi, Damien nunca tinha entrado numa igreja durante toda sua vida. Certo dia, já com 5 anos, os pais decidem que Damien deve acompanhá-los num casamento, e a reação que o garoto esboça, antes mesmo de entrar na igreja, é algo assustador. Vale conferir sua expressão já ao avistar a igreja de longe:


      Há um padre que tenta, de qualquer forma, avisar Robert de que seu filho, na verdade, é filho do diabo. Mas Robert, como qualquer pai, não acredita em uma blasfêmia como essa, ainda dita por uma pessoa que não conhece. Surge, então, outra pessoa apta a demonstrar que há algo de errado com a família de Robert: o fotógrafo da festa de 5 anos de Damien. Nessa oportunidade, ele tirou uma foto da antiga babá do garoto, e percebeu um certo detalhe na foto que, ao seu ver, poderia ser apenas defeito do rolo do filme - é um feixe de luz, um risco, paralelo à cabeça ou ao corpo da pessoa, como se fosse um raio a atingindo. Mas esses defeitos começam a aparecer em outras fotos: do padre que falou com Robert e também na própria foto do rosto do fotógrafo, interpretado por David Warner. Esses "defeitos" são uma premonição das pessoas que vão morrer - assim, Robert parte em busca de respostas sobre a possível origem de seu filho adotivo, com a intenção de salvar sua mulher e proteger seus conhecidos de uma possível morte.

(O Padre)

      Abaixo está uma das fotos tiradas pelo fotógrafo; basta prestar atenção no risco de luz que corta o retrato em direção ao corpo/cabeça da pessoa:


      Acho que, sobre o filme, já dei informações suficientes. Acredito que qualquer outra coisa que eu contar vai acabar sendo spoiler, e eu não quero estragar o prazer de ninguém que deseja ver esse filme. Todos as imagens que coloquei aqui são prints do filme; sim, dá pra ver que a qualidade não está muito boa, mas juro que dá pra assistir perfeitamente bem e, com o filme rodando, a qualidade fica bem melhor (digamos, nota entre 7 e 8).

      Ainda, antes de encerrar, preciso explicar o motivo de eu achar o filme de 2006 melhor que esse. Pra começar, o filme de 2006 não é melhor em TODOS os aspectos, mas achei que, nos momentos mais relevantes e no quesito "emoção" e "suspense", o filme mais atual conseguiu atingir uma qualidade melhor. E digo isso também em relação ao garoto Damien: o ator que o interpreta no filme mais novo com certeza é muito mais diabólico que o garoto do filme que estamos discutindo aqui; não sei como, mas conseguiram colocar muito mais maldade em seu olhar do que no olhar do Damien de 1976. Os momentos de clímax também alcançam um maior suspense, e até os acidentes foram mais elaborados.

(Damien interpretado por Harvey Stephens - 1976)

(Damien interpretado por Seamus Davey-Fitzpatrick  - 2006)

      Uma coisa que eu achei muito interessante, e que com certeza quem gosta de Harry Potter também vai acabar percebendo, é a semelhança entre os dois atores que interpretam o fotógrafo. Conseguiram pegar alguém muito parecido com o David Warner - e que, por sinal, também se chama David: David Thewlis (e que, por sinal, novamente, fez um dos filmes favoritos de toda a minha vida: Dragonheart).


      Sim, eu sou do contra: praticamente TODO MUNDO prefere um milhão de vezes A Profecia de 1976, e qualifica o de 2006 como - lixo, fraquíssimo, péssimo, descartável em relação do filme antigo -. Eu não achei. Enfim, cada um com sua opinião, mas eu ainda prefiro e sempre vou preferir o filme atual. Então, fica por conta de vocês assistirem aos dois filmes para decidir qual é o melhor. Au revoir!


      "Quando os judeus voltarem à Sião...
E um cometa preencher o céu...
E o Sacro Império Romano se levantar...
Então tu e eu temos de morrer.
Do Mar Eterno ele se levanta...
Criando exércitos em cada margem...
Virando cada um contra seu irmão...
Até que o Homem deixe de existir"

      Link para download (formato RMVB legendado):
      Clique aqui.

Resenha por: Rebeca Reale

Festim Diabólico

Em primeiro lugar, me sinto praticamente na obrigação de agradecer a todos que vêm acompanhando O Filme que Habito. É uma alegria imensa ver o pessoal curtindo a página no facebook, comentando as fotos, dando sugestões. Pra nós, ver filmes já era um prazer; agora, então, nem se fala! Continuem curtindo, comentando e tudo mais, porque a tendência é o blog ficar cada vez melhor. Obrigada, gente!

      Bom, hoje vou falar, pela segunda vez, sobre o mestre Alfred Hitchcock. E só posso dizer uma coisa: quanto mais filmes dele eu vejo, mais indecisa fico sobre qual é o meu preferido.

ROPE (1948)



      Brandon (John Dall) e Phillip (Farley Granger) são dois amigos universitários que se consideram superiores intelectualmente ao resto do mundo. Eles têm umas ideias estranhas sobre tudo, e, devido à sua extrema arrogância, decidem acatar um desafio: cometer o crime perfeito. E a vítima escolhida é David (Dick Hogan), um de seus colegas de escola.

 (Phillip, David e Brandon, da esquerda para a direita, respectivamente)


      Brandon e Phillip o matam (isso não é spoiler), e vão além: resolvem colocar o corpo dentro de um baú e deixá-lo no meio da sala, utilizando-o como mesa para uma festa que darão na mesma noite. Brandon é o que mais demonstra frieza e comanda os atos de Phillip que, no fundo, é só um covarde “maria vai com as outras”. Ele se deixa levar por Brandon mesmo quando não concorda com as ideias dele.


      Enfim, cai a noite e a festa começa. Eles convidam, inclusive, amigos e parentes de David, que não têm a menor ideia do que pode ter acontecido (eles esperam, inclusive, que ele apareça na festa). Entre os convidados está um dos professores de Brandon e Phillip, Rupert Cadell (vivido pelo lindo do James Stewart), conhecido por seu humor ácido e raciocínio elaborado. Na verdade, Brandon nem gosta dele; só o convida para deixar o “desafio” do crime perfeito ainda mais... interessante, digamos.

 (Começa a festa. Percebam que o baú onde colocaram David está com os candelabros e petiscos)

(Eis o professor Rupert Cadell)

      A festa vai rolando tranquila, mas, em alguns momentos, a falta de David é percebida. Nesses momentos, a graça recai nas reações de Phillip: sempre que ouve o nome do falecido, ele sua, treme, corre pra pegar outra bebida. Isso faz com que Rupert comece a perceber que tem coisa estranha acontecendo. Brandon, por sua vez, esbanja frieza e naturalidade, o que, ao contrário do que pensa, instiga ainda mais a curiosidade do professor.

 (A garota é Janet, um "affair" de David) 


      Rope foi filmado em apenas um cenário: sim, preparem-se pra passar uma hora e vinte de filme no mesmo lugar, o apartamento em que moram Brandon e Phillip. Pra quem acha que isso não faz sentido, ou que o filme vai ser muito do sem graça, já deixo claro que não é bem assim. Esse filme é de um suspense SENSACIONAL, e, ainda que eu seja meio suspeita pra falar de Hitchcock, não tô exagerando numa vírgula.

      É como se o espectador fosse um dos convidados da festa. A mobilidade da câmera faz com que você não se sinta entediado de passar o tempo todo “no mesmo lugar”. Além disso, os diálogos – e, os consequentes jogos psicológicos que provêm deles – deixam você grudado na tela pra saber o que vai acontecer.

      Eu não sabia, mas pesquisando pela interwebs vi que a história de Rope é baseada num caso real. Trata-se do caso Leopold-Loeb, em que dois amigos, Nathan Leopold e Richard Loeb, sequestraram e mataram um garoto de 14 anos simplesmente pela vontade de cometer um crime perfeito. Os rapazes eram estudantes da Universidade de Chicago, e o crime ocorreu em 1924 – ambos foram condenados à prisão perpétua.

      Ainda nas “Curiosidades”, Rope foi o primeiro filme em cores de Hithcock. E não foi o único, como se sabe. E foi o primeiro da “parceria” com James Stewart, que esteve presente em outros sucessos do diretor, como Vertigo e Rear Window. E posso dizer, e acredito que muita gente concorde: essa parceria deu MUITO certo.

      Enfim, fico boquiaberta com a genialidade do Hitchcock. Um cômodo, poucos atores, e uma trama deliciosa, que transborda suspense. Gosto muito desse filme e recomendo tanto quanto meu queridinho Psycho. Assistam, vale a pena. Até a próxima.


Resenha por: Stephanie Eschiapati

domingo, 11 de novembro de 2012

O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

      Ainda não acredito que passei 20 anos da minha vida sem assistir a esse filme. Ao ver apenas uma vez, já entrou em meus favoritos. É claro que já vi várias vezes, porque o filme é simplesmente maravilhoso.

WHAT EVER HAPPENED TO BABY JANE? (1962)


      Quem vir pela primeira vez talvez fique confuso com a passagem temporal rápida da infância à velhice das duas garotas, por isso vou explicar a história do filme, sem, contudo, dar spoiler.

      Quando criança, Jane (Baby Jane), interpretada de forma magnífica (juro, atuação extremamente perfeita) por Bette Davis, era uma criança-sucesso. A forma com que a família ganhava dinheiro se devia aos seus famosos shows, onde ela cantava, dançava, interpretava, e, ainda, alguns atos contavam com a participação de seu pai. Bonecas da Baby Jane eram vendidas, quase uma réplica perfeita da criança, até em termos de altura. Todo o brilho era voltado à Baby Jane, todos a amavam, a idolatravam, enfim, ninguém perdia seus shows e todos aplaudiam, ao final, fervorosamente. Acontece que tal situação incomodava Blanche, irmã de Baby Jane, também interpretada de forma esplendorosa por Joan Crawford (que ganhou mais um fã depois desse filme – eu). Blanche se incomodava sempre com os modos autoritários e teimosos da irmã, que chegavam a ser, muitas vezes, desrespeitosos.

(Baby Jane)


(Blanche, irmã de Baby Jane, e sua mãe)


      Só que o tempo passa. Nem sempre quem é famoso quando criança consegue manter esse dom quando cresce, e foi exatamente isso o que aconteceu. Já na época em que ambas eram adultas, mulheres formadas, todos deixaram de gostar de Baby Jane – era um sacrifício contratá-la para os filmes, pois a maioria esmagadora a considerava uma péssima atriz. Como se costuma dizer, "o jogo virou": quem virou uma atriz magnífica, que fez vários filmes e sempre era idolatrada pela crítica, foi Blanche, a irmã de Baby Jane. Mas o destino interferiu, e nem sempre as coisas continuaram assim: Blanche sofre um acidente de carro (que é explicado ao fim do filme), e fica paraplégica (atenção, minha gente, isso NÃO é spoiler!). Sobra, então, o fardo desse acidente para a vida de Baby Jane, pois é ela quem passa a ser a encarregada de cuidar da irmã paraplégica até o fim de sua vida.

(Blanche)


(Jane)

      A história chega, então, à fase em que ambas estão “velhas”. Jane se tornou uma alcoólatra acirrada, não se conformando que um dia a irmã pôde ser mais famosa que ela. Ela simplesmente não aceita isso; para ela, a eterna Baby Jane ainda sobrevive no coração e na mente de todos os cidadãos – e é isso que passa a atormentar sua mente durante a trama. É verdade que Jane ama Blanche, mas a inveja e a loucura acabam ocupando um espaço maior na vida das duas irmãs. Blanche é inocente, carismática, ingênua, ama a irmã mais que tudo, enfim, posso dizer que é uma pessoa pura e sem maldade alguma no coração, diferente de sua irmã.


      E toda essa inveja, essa loucura, essa luxúria, todas ligadas ao consumo excessivo de álcool, faz com que Jane passe a maltratar a irmã. As torturas psicológicas que Jane emprega chegam a ser, muitas vezes, piores que as torturas físicas. Sabe aquelas cenas em que você abre a boca de choque? Então, é bem assim que a coisa acontece. Blanche tenta de qualquer forma pedir ajuda: à vizinha, ao médico, ao novo músico que passa a frequentar sua casa, mas todas as tentativas são em vão; o fato de ela ser paraplégica e de Jane controlar todas as coisas que acontecem na casa dificulta qualquer tentativa de livrá-la das torturas da irmã.




      E, além de tudo, Jane decide veementemente voltar a ser o que era quando criança: Baby Jane. Mesmo estando velha, acabada, defasada (vocês vão ver que há cenas em que ela está tão péssima, que eu não me surpreenderia se ela entrasse em decomposição naquele exato momento), ela volta a se vestir com roupas iguais as que usava quando fazia sucesso, e volta também a dançar e cantar como fazia em seus shows – mas, dessa vez, com uma voz de gralha horrorosa, que você não sabe se assusta ou se ri quando ouve. Ela vai passar por cima de tudo e de todos pra alcançar seu objetivo e voltar a ser Baby Jane – ela não mede as consequências e, com sua mente tão perturbada como está nessa altura da trama, qualquer ato cruel passa a ser, ao ver dela, um ato normal.




      Com certeza esse é um dos melhores filmes já criados no cinema. É surpreendente, tanto o decorrer da película, quanto o final, por isso acredito que nenhuma pessoa do mundo deve deixar de vê-lo.


Resenha por: Rebeca Reale