terça-feira, 29 de janeiro de 2013

As Aventuras de Pi

      Muitas pessoas julgam o livro pela capa, e isso tem ocorrido com esse filme: Life of Pi. Acontece que, quando as pessoas visualizam o pôster por aí, um garoto, um barco e um tigre de bengala, criam o (pré) conceito de que o filme é supostamente infantil – ainda mais por traduzirem o filme colocando “As Aventuras de” no título. Mas não é nada disso. “A Vida de Pi”, como seria o título em sua tradução literal, possui um conteúdo muito maior do que qualquer um possa imaginar. É um filme que busca a verdade sobre Deus, seu filho e sobre todo o universo. E, acima de tudo, é uma verdadeira história de amor e amizade. É um filme sobre um garoto que procura por algum sentido da vida nesse imenso mundo.

LIFE OF PI (2012)


(Mesmo quando Deus parecia ter me abandonado, ele estava observando. 
Mesmo quando ele parecia indiferente ao meu sofrimento, ele estava observando. 
E quando eu estava além de toda a esperança de salvação, ele me deu descanso.
 Então ele deu-me um sinal para continuar minha jornada.)

      Dirigido por Ang Lee (que já ganhou Oscar com o filme O Segredo de Brokeback Mountain), o filme conta a história de como o garoto chamado Piscine Molitor Patel sobreviveu quando mais nada lhe restava – apenas a companhia de um tigre que, como animal selvagem e carnívoro, tornava perigosa sua presença.

      A história começa com Pi adulto e com um escritor visitando sua casa. O escritor precisa de inspiração para um novo romance, e ficou sabendo que Pi contaria uma história que lhe faria acreditar em Deus. Pi, então, como narrador em primeira pessoa, inicia a história que para muitos foi considerada falsa.


      O nome Piscine é explicado já no início do filme, e Pi é apenas seu apelido. Criado em um zoológico, desde a infância o garoto sofreu por ter recebido este nome (Piscina) e sempre foi alvo de piadas. Só que Pi era um garoto diferente e inquieto mentalmente: ele não se contentava em saber que o dito Deus, todo poderoso, mandou seu próprio filho para que sofresse e morresse por todos os culpados. Para ele, nada disso fazia sentido. Então ele resolve se aproximar mais da religião – neste caso, do Cristianismo. Quanto mais recebe os ensinamentos de um padre, mais as coisas ficam claras em sua mente, e cada vez mais perto de Deus ele consegue se encontrar. Só que Pi não se contenta apenas com isso. Ele busca em outras religiões as respostas que ainda não conseguiu encontrar – assim, ele passa a praticar o Islamismo, conhecendo o deus Allah. 



      O pai de Pi explica a ele que não se pode seguir tantas religiões ao mesmo tempo, pois acreditar em tudo é o mesmo que acreditar em nada. Mas Pi ainda não encontrou um sentido na existência de algum Deus, e precisa descobrir quem ele realmente é e qual o sentido de todas as coisas que acontecem em sua vida. E tudo isso será provado a ele com um naufrágio: indo embora da Índia, uma tempestade faz seu navio afundar. Mas ele sobrevive. Ele, uma hiena, uma zebra, um orangotango e, finalmente, um tigre de bengala, todo salvos por um bote.

      E é o que acontece: Pi fica sozinho dentro um bote, em alto mar, sem ajuda nenhuma, com um tigre perigoso que a todo momento tenta atacá-lo. Dias, semanas e meses se passam, e apenas com a ajuda de um livro, um lápis e uma faca, Pi consegue colocar as coisas em ordem e, acima de tudo, consegue domar o tigre, que aceita sua presença como se fosse da própria espécie.



      A fotografia desse filme é sensacional. O mar, os animais, as coisas que Pi consegue ver e presenciar são incríveis. Em muitas dessas cenas o diretor usou e abusou dos efeitos especiais, tudo isso para nos lembrar de que a história é a versão relatada por Pi, ou seja, cabe a nós acreditarmos ou não se o garoto passou realmente por aquelas experiências. De acordo com Pi, todos esses acontecimentos ocorreram na vida dele para que Deus pudesse participar de sua história e demonstrar sua existência e sua presença eterna, tanto nos momentos bons quanto nos ruins.

      No final do filme, Pi conta outra versão de sua própria história, que seria mais próxima da realidade (uma história onde os animais sobreviventes eram substituídos por pessoas que estavam no navio). Ele mesmo dá a opção de escolha àquele escritor para quem contou sua história – cada um decide acreditar no que quer, independentemente da verdade.




      Enfim, é isso: o filme é belo, pois trata do tema religião de forma ampla, e não focando apenas em uma crença. Ninguém está tentando impor nada sobre ninguém: como eu já disse, Pi contou sua história, a história que fez ele acreditar em Deus e encontrar todo o sentido para sua vida, e, no final, contou outra versão e deixou a opção de escolha para quem quisesse ou não acreditar em sua versão principal. Além do mais, o filme trata da relação entre a família e os comportamentos que as pessoas podem desenvolver quando se tornam solitárias demais.

      De certa forma, Pi só sobreviveu ao naufrágio por ter a presença do tigre, chamado Richard Parker, ao seu lado. A força para seguir em frente, na tentativa de sobreviver, foi encontrada neste animal. Além de tudo, também é uma história de amizade. O filme mostra que, em situações críticas, coisas aparentemente impossíveis, como a relação entre um garoto e um tigre e a criação de uma amizade e proteção inimagináveis são realmente possíveis, e, de acordo com Pi, graças a presença de Deus.

      Eu ainda tenho minhas dúvidas sobre esse assunto: não sei se acredito em tal força tão superior (vulgo Deus) ou não. Eu ainda preciso de muitas respostas, antes de encontrar o verdadeiro sentido da vida e do universo. Mas não é por isso que eu deixaria de apreciar o filme, que além de ter uma linda fotografia, mostra o poder da fé, do amor e da amizade. Acredito que tenha sido uma ótima indicação ao Oscar.




      Curiosidades:

      O filme é baseado em um livro BRASILEIRO! O autor, Moacyr Scliar, faleceu em 2011, mas deixou em sua carreira esta obra, cujo nome é “Max e os Felinos”. Em 2002, houve uma polêmica entre ele e o escritor canadense Yann Martel, autor do livro “Life of Pi”, que foi acusado de plágio. Toda a polêmica começou quando Yann ganhou o importante Prêmio Booker que, nos países ingleses, é considerado como um passo anterior ao Nobel. 

      Em sua defesa, Yann Martel, que ganhou nada mais, nada menos que 75 mil dólares com o Prêmio Booker, alega que apenas tirou inspiração do livro Max e os Felinos após ter lido uma resenha de um autor americano, mas que nunca leu o livro em questão. Em suas palavras:

      "Eu emprestei a premissa de um livro que não havia lido. Agradeço a Scliar em minha 'nota do autor' pela 'faísca devida' e o mencionei em todas as entrevistas que concedi sobre 'Life of Pi'. Meu único encontro com Max e os Felinos foi através da resenha. E isso foi o que ela representou para mim: uma faísca que colocou fogo em minha imaginação e me incentivou para que eu contasse minha história". 

      Fonte: http://www.correiomariliense.com.br/materia.php?materia=32180.


      No vídeo abaixo há um depoimento do próprio Moacyr sobre esse acontecimento: 


      Sendo plágio ou não, Ang Lee fez um ótimo filme.

      Link para download (formatos AVI, MP4 e Blu-Ray):
      Clique aqui.

Resenha por: Rebeca Reale

3 comentários:

  1. Acho que esse filme fala mais sobre, amor, amizade e sobre fazer o que o coração deseja do que propriamente sobre religião. Tudo bem que cita as religiões e que Pi aceita e agradece a Deus por tudo que lhe acontece. Mas isso é apenas a escolha do personagem. A mensagem, acredito, é mais do que o que o personagem resolveu acredita. Ou sobre o que devemos ou não acreditar. Exemplos: todas as vezes em que Pi alimentou Richard Parker; quando ele só saiu da ilha após Richard Parker embarcar; quando ele sofre, mas entende o fato de Richard Parker ter o deixado sem nem ao menos olhar para trás depois de tudo que ele fez por ele. São inúmeras as cenas marcantes nesse filme.
    Tudo isso foi feito com amor, por amizade - nada reciproca - e como o coração de Pi desejou que fosse.

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  2. Aparentemente, o filme realmente foi feito focando a busca de Deus e sua existência, independentemente da religião que é seguida. Mas sim, o desenvolver do filme mostra a relação entre Pi e Richard Parker, uma relação de amizade e também de amor (pelo menos neste último item por parte de Pi). Eu citei que além de abarcar o tema religião, o filme também foca na relação entre a família como também a relação de uma amizade verdadeira - a única coisa que o fez sobreviver antes de receber o "sinal" de Deus, como ele mesmo disse. Mas obrigada pelo comentário, entendi o que você quis dizer e eu concordo plenamente! :)

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  3. Então a resposta de quanto tempo ele fica no mar é. Meses ?

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