domingo, 17 de fevereiro de 2013

O Homem que Não Estava Lá

      "Sim, eu trabalhava em uma barbearia. Mas nunca me considerei um barbeiro.

THE MAN WHO WASN'T THERE (2001)



      The Man Who Wasn’t  There se passa na década de 1940 e trata da pacata e monótona vida de Ed Crane (Billy Bob Thornton), um barbeiro que trabalha no salão de seu cunhado, Frank (Michael Badalucco). Ed é casado com Doris (Frances McDormand), que, logo à primeira vista, já se mostra completamente diferente dele. Ela trabalha como contadora na loja Nirdlingers, cujo proprietário, Big Dave Brewster (James Gandolfini), é um excêntrico e convencido homem, casado, assim como Ed, com uma esposa completamente diferente de si, Ann (Katherine Borowitz).

(Ed Crane)

(Doris)

(Big Dave Brewster)

(Ann, a assustada esposa de Dave)

      Não só os espectadores percebem logo de cara, mas Ed também sabe que sua esposa e o patrão dela têm um caso. Isso é tão visível que chega a irritar. Mas Ed, no fundo, não se importa; talvez porque não a ame, talvez porque já se conformou que aquele casamento é uma farsa, enfim, tirem suas conclusões. A questão é que, ao contrário do que muita gente faria, Ed não pensa em vingança nem nada parecido por certo tempo.


      Um dia, entretanto, quase no fim do expediente da barbearia, aparece um sujeito falante, que se dizia um grande negociante de passagem pela cidade, Creighton Tolliver (Jon Polito). Segundo o cara, seu negócio era “a maior oportunidade de negócio desde Henry Ford”: lavagem a seco. Ele precisava, porém, de um sócio comanditário (pra quem não sabe, esse tipo de sociedade – a comandita, que hoje não existe mais – demanda um sócio comanditário, que entra com o capital, e um ou mais sócios comanditados, responsáveis pela mão de obra) que apresentasse a razoável quantia de 10 mil dólares pra dar vazão ao negócio. 


      É claro que Ed não dá a menor importância para o falastrão, mas, depois de um tempo, passa a considerar a hipótese de se unir a ele para a tal sociedade. E tem até uma ideia de como conseguir o dinheiro: chantageando Big Dave. Ele, então, manda uma carta anônima ao patrão da esposa, dizendo saber do caso de Dave e Doris, e exigindo 10 mil dólares pra não espalhar a história.

(Tradução: Eu sei sobre você e Doris Crane. Colabore ou Ed Crane saberá. Sua esposa saberá. Todos saberão. Junte 10 mil dólares e aguarde instruções.)

      O mais engraçado é que Dave, no dia de uma festa da Nirdlingers, chama Ed de canto pra conversar e fala exatamente sobre isso. Claro que não cita nomes, mas fica claro que o caso com a “mulher casada” é com Doris. Ele diz que tem medo do que pode acontecer se não pagar o chantagista – e deem um close na “poker face” de Ed enquanto ouve a história –, visto que a loja é de sua esposa, mas não pode pagar sem se quebrar financeiramente.

      Ed não o aconselha, na verdade. Apenas escuta. E Dave paga, o barbeiro pega o dinheiro e, no mesmo dia, vai até Creighton pra entregar o dinheiro e “começar” o negócio. O problema é que Dave descobre tudo, e, numa noite, chama Ed na loja e conta que descobriu tudo. Os dois entram em luta corporal e Ed o mata. Como era tarde da noite e ninguém o viu, ele simplesmente sai da loja e volta pra casa. Tudo – e eu disse tudo mesmo – começa a dar errado a partir daí. Uma história aparentemente simples foge de controle, e a vida do mal-humorado barbeiro Ed Crane vira de pernas pro ar.


      The Man Who Wasn’t There é um retrato simples, mas intenso, de uma vida que tinha tudo pra ser constante do início ao fim. Ed é um ser humano totalmente alheio à sua realidade – ele simplesmente não está lá. Não vi Ed dar uma risada, ou um sorriso aberto, durante quase duas horas de filme. Além disso, o que mais me surpreendeu foram as questões existenciais que ele aborda – desde o crescimento do cabelo humano até seu próprio casamento.

      A narração em primeira pessoa dá a impressão de que você é Ed Crane. E, se você parar pra pensar, você pode ter algo dele. É claro que não tão niilista nem tão azarado, mas, se você é infeliz no casamento, no trabalho, ou insatisfeito com a própria vida que leva, SIM, sinto informar, mas há algo do Crane em você. Cabe a cada um de nós fazer o possível pra que as coisas sejam diferentes.

      Lições de moral à parte (foco, Stephanie, haha), The Man Who Wasn’t There é um ótimo filme. Faz pensar em uma série de coisas, e te surpreende em uma série de pontos – sem dar spoiler, e pra dar um exemplo, tem uma parte do filme que se parece um bocado como filme Lolita (muito bem resenhado pela Rebeca aqui no blog). Enfim, super recomendo. Até a próxima. 


Resenha por: Stephanie Eschiapati

Um comentário:

  1. Acabo de conhecer o blog de vocês, estava pesquisando para uma postagem no meu blog, e cheguei nessa aqui. Parabéns pelo blog, é muito legal, especialmente para cinéfilos.
    Espero que vocês não se importem, mas linquei o blog de vocês no meu, na lista de outros blogs legais.

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