sábado, 15 de dezembro de 2012

Eu matei minha mãe

      Título forte, que me atraiu pra assistir ao filme. Não me arrependi. 

J'AI TUÉ MA MÈRE (2009)


      O filme tem um roteiro aparentemente simples:  a dura convivência entre Hubert, um adolescente de 17 anos (vivido por Xavier Dolan, que também dirige a película – aliás, invejinha básica dele, afinal, dirige e protagoniza um filme tão intenso aos 23 anos de idade) e sua mãe, Chantal (Anne Dorval). É a típica família monoparental, pois, após o divórcio dos pais (que ocorreu quando Hubert tinha sete anos), seu pai, Richard (Pierre Chagnon), se afasta consideravelmente dos dois.


      Hubert podia ser só um adolescente revoltado como tantos outros, mas é perceptível que a revolta dele não é normal: ele odeia a mãe, e não é aquela raivinha que bate quando a mãe não deixa sair, não, é ódio mesmo. Ele odeia as roupas que ela veste, o jeito como ela come e como mantém a casa. Qualquer assunto dá margem a discussões, permeadas por palavrões e muita falta de respeito. 

      Chega a dar aflição acompanhar as brigas. Mesmo porque elas começam por motivos extremamente fúteis e terminam sem pé nem cabeça. Grande parte do filme gira em torno dessas discussões, que dividem espaço com manifestações de amor incondicional entre mãe e filho. É tudo muito estranho, pra ser sincera.

      Um detalhe muito interessante é que várias cenas do filme parecem um documentário: Hubert fica em frente à câmera falando o que sente pela mãe. São sentimentos confusos, pois, segundo ele mesmo, ele a ama, mas não como filho; mataria alguém que tocasse nela, mas existem centenas de pessoas que ele ama mais do que a própria mãe.



      Hubert começa uma grande amizade com sua professora, Julie (Suzanne Clément), em decorrência de seus problemas familiares. Os dois compartilham a mesma dor: enquanto o garoto não se dá bem com a mãe, a professora não se dá bem com o pai. 


      A situação fica ainda mais tensa quando os pais de Hubert – sim, OS PAIS, afinal, depois de quatro meses sem dar notícia, Richard Minel resolve dar as caras – decidem colocá-lo em um colégio interno. Isso aumenta ainda mais a revolta do garoto, que, devido a essa experiência, começa a ver a vida de um jeito diferente.


      Minha primeira reação ao término desse filme foi: “Nossa, preciso escolher um lado”. É mais ou menos por aí. São dois opostos: a mãe, mulher média, trabalhadora, que tem de criar um filho sozinha; e o filho de 17 anos, sensivelmente mimado e marrento. São as duas ópticas pelas quais você pode assistir a esse filme, e, ao final, ver quem tem razão – se é que alguém tem razão.

      Parcialmente falando, se é pra escolher um dos dois, eu escolho o da mãe. Vi um pouco de mim no Hubert, e o espectador provavelmente sentirá o mesmo. A questão é que sua mãe, apesar de parecer fria às vezes, é só uma mulher maltratada pela vida, cansada, sem paciência pros showzinhos do filho, na verdade. Não a critico porque não consegui  enxergar, no decorrer do filme, motivos reais pro Hubert ser tão revoltado. Ele apenas não conseguiu enfrentar, na boa, uma situação que tanta gente enfrenta hoje em dia: a separação dos pais.



      Críticas à parte, J'ai Tué ma Mère pode ser considerado um filme muito bom. A sensibilidade conferida à película por Xavier Dolan – por ser diretor e protagonista, na minha opinião – força, em cada cena, o espectador a pensar, se enxergar, como um espelho. Existe, existiu ou existirá um pouco de Hubert em cada um de nós, em maior ou menor intensidade. 

      Gosto de filmes em que os diálogos são fortes e os silêncios, reveladores. Esse filme é assim. A gente não precisa esperar que Hubert e Chantal se falem o tempo todo pra entender o filme; a sintonia entre Xavier Dolan e Anne Dorval é linda. O filme é forte como um todo: desde o seu título, no mínimo, controverso; até as cenas mais básicas, que te fazem parar e pensar: o que eu sinto pela minha mãe? Super recomendo, galera. Até.



Resenha por: Stephanie Eschiapati

      P.S.: Mamãe, te amo :3

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Túmulo dos Vagalumes

      Faz um dia que vi esse filme e ainda estou desidratada de tanto chorar. Pensem em um filme triste. Demasiadamente triste e que, mesmo sendo animação, retrata perfeitamente uma história que se passa durante a guerra no Japão de uma forma brutalmente realista, sendo digna, digo eu, de um Oscar.

HOTARU NO HAKA (1988)



      O filme começa pelo final, e já nesses quatro primeiros minutos conseguimos sentir a intensidade da história. Então, quando vocês acabarem de assisti-lo, voltem ao começo, pois o que está lá com certeza irá ampliar os sentimentos de emoção e tantos outros em torno de 200%. Sim, é isso mesmo.

      A história se passa durante Segunda Guerra Mundial, no Japão, na época em que ocorreu o bombardeamento de Kobe. Dois irmãos, Seita e Setsuko, tentam sobreviver aos inúmeros bombardeios feitos pelos aviões de guerra. De início, ainda contam com a ajuda de sua mãe, mas infelizmente ela é atingida em um dos ataques, deixando os irmãos à beira de suas próprias sortes para sobreviverem da maneira que conseguirem: sozinhos. O pai está lutando na guerra, mas é dado como desaparecido, o que diminui ainda mais as esperanças do irmão mais velho, Seita, de que ele e sua irmã sobrevivam. Porém, nenhum desses acontecimentos faz com que ele desista. Ele luta bravamente para conseguir um lugar onde ficar e, acima de tudo, conseguir comida. O mais importante para ele, no momento, é manter sua irmã a salvo – Seita tem 12 anos e sua irmã aproximadamente 4 anos.


(Seita e Setsuko)

      Este filme é uma adaptação do livro que leva o mesmo nome (Hotaru no Haka)e a animação foi criada e dirigida pelo Studio Ghibli (o Studio Ghibli foi fundado pelo diretor do filme, Isao Takahata, e também pelo meu diretor preferido, Hayao Miyazaki, que não tem participação nesta película).

      As crianças conseguem se hospedar em uma casa, mas a dona, realmente sem motivo algum, começa a repelir os irmãos para que procurem outro lugar para morar. Mesmo morando sob um teto, é dificílimo arrumar comida nesses tempos de guerra. Imaginem, então, a situação de duas crianças sem um lugar para (sobre)viver. E é isso o que acontece – não podendo mais ficar nesta casa, Seita e Setsuko vão morar, literalmente, no meio do mato, em uma espécie de abrigo construído debaixo de uma montanha. Chega um momento em que Seita não consegue mais comprar comida para a sobrevivência de ambos; então, durante os ataques aéreos, ele arrisca sua própria vida furtando as casas vazias, enquanto os moradores se alojam nos abrigos.

      É realmente impressionante como cada personagem, mesmo através de um desenho, consegue retratar diversas emoções. Setsuko é uma garotinha feliz, angelical, que encanta todos ao seu redor; Seita, por sua vez, é um garoto valente, que faz de tudo para proteger sua pequena irmã de todos os males da guerra. Este sentimento de piedade e compaixão que os personagens repassam, infelizmente, não consegue atingir os outros personagens da trama. Muitas pessoas observam a situação pela qual os irmãos estão passando e, mesmo assim, agem com ignorância e indiferença, como se eles fossem apenas mais duas crianças predestinadas a morrer. Negam-lhes comida, abrigo e remédio. Mesmo em tempos de guerra, referidas atitudes não são justificáveis.

      Tudo isso ainda é demonstrado quando a pequena Setsuko fica doente. Além de várias doenças de pele, decorrentes do fato de morarem no meio do mato, sem possuírem qualquer meio de higiene pessoal, ela também é atacada por uma terrível desnutrição, devido à escassez de alimentos. Mesmo levando a irmã ao médico, ele se recusa de uma forma muito fria e cruel em ceder alguma medicação à garotinha. Todos desprezam os irmãos de uma forma tão cruel e sem coração, que é impossível não ficar triste durante o decorrer da história.




      A narrativa do filme é bem simples; a história segue uma ordem cronológica básica sobre a história dos irmãos, sem nenhum truque, sem nenhuma interferência, e, ainda assim, o teor trágico predomina durante toda a trama. Nesse caso, não podemos dizer que a “diferença está nos detalhes”. Aqui, a diferença está na simplicidade, o que deixa tudo mais real (principalmente os sentimentos e as emoções).

      Pra vocês entenderem a profundidade especial deste filme, ficamos com um sentimento altruísta mesmo já sabendo o que vai acontecer. É como se não nos conformássemos; esperamos que apareça uma solução para o que está acontecendo; esperamos ver um sorriso, novamente, no rosto de cada personagem. A nossa esperança, bem como a dos protagonistas, é a última que morre.

      Todas as cenas possuem detalhes especiais, principalmente aquela que dá nome ao filme. Quando vão morar no mato, Setsuko não consegue dormir devido à escuridão do local. Ela e o irmão, então, capturam vários vagalumes para iluminar a “moradia”. No dia seguinte, Setsuko enterra os animais, e lamenta por terem um período de vida tão curto – e isso nos remete ao que está acontecendo com todas as pessoas nessa época de guerra. E assim, também, podemos relacionar a vida de Setsuko com a de um vagalume – sem os cuidados necessários, o que era pra ser uma vida feliz, longa e digna, passa a ser efêmera e com um mínimo de felicidade.



      Há cenas que mostram exatamente a simplicidade das pequenas coisas – quando Setsuko está com fome e Seita não consegue comida para lhe dar, ela apenas se contenta com pequenas balas de fruta que ficam guardadas dentro de uma caixinha de metal. O valor psicológico e sentimental que esta caixinha representa na trama também possui certa profundidade. Quando nos lembramos dessa caixinha, todos os sentimentos que ocorreram enquanto assistíamos ao filme vêm à tona.

      Simples, inocente, profundo, um retrato impecável da Segunda Guerra Mundial, que mostra com exatidão, de uma forma trágica e intensa, a vida de quem tentou sobreviver em meio a tanto caos. É uma história de sobrevivência maravilhosa, sobre um amor incondicional entre os dois irmãos, protagonistas da história, bem como sobre a indiferença e repugnância dos terceiros com os quais tentaram se envolver ao pedir socorro.

      Se através de uma animação conseguiram retratar todas as coisas horríveis que aconteceram durante a guerra (e sem cunho político), apenas para demonstrar as dificuldades decorrentes desse acontecimento histórico, um sentimento horroroso me atinge só ao imaginar como tudo isso aconteceu na realidade. Ademais, o filme chega a ser tão bom que, apenas com a trilha sonora, e sem as cenas intensas de dor e tristeza, o sentimento fica à flor da pele.


      Preparem o coração, pois esse é um daqueles filmes chocantes e cheio de emoções ao decorrer de toda a história. Ninguém deve deixar de apreciar esta obra maravilhosa.


“Saito, por que os vagalumes têm de morrer tão cedo?”

      Link para download (formato AVI legendado):
      Clique aqui.

Resenha por: Rebeca Reale

sábado, 8 de dezembro de 2012

Casablanca

      Acho uma honra falar sobre esse filme. Aliás, vou me esforçar muito pra conseguir falar dele sem me alongar demais, afinal, são tantos detalhes importantes por aqui que fica difícil ser imparcial e sucinta.

CASABLANCA (1942)



      Segunda Guerra Mundial: Casablanca é a capital do Marrocos, território ainda não ocupado pelos nazistas (hoje, a capital é Rabat). Além disso, é rota obrigatória pra quem quer sair da Europa – ilegalmente, através de vistos falsificados denominados “salvo-condutos” – indo à Lisboa e, de lá, voando até a América.

      O point da cidade é o Rick’s Café Americain, um bar/cassino comandado por Richard Blaine (Humphrey Bogart), um sujeito incrivelmente cínico e um tanto misterioso. Afinal, apesar do furor político acontecendo, ele não se envolve com nada, e afirma, o tempo todo, que o único negócio que o interessa é o seu mesmo.


      Esse fato faz com que ele seja amigo de muita gente, e tenha muita influência em Casablanca. Um de seus melhores amigos é o Capitão Renault (Claude Rains), um policial corrupto – afinal, por certa remuneração, ele assinava os salvo-condutos e fazia vista grossa para as apostas ilegais do bar do Rick – mas muito gente boa.


      Isso porque um líder do Terceiro Reich, Major Strasser (Conrad Veidt) chega à Casablanca com uma missão: prender Victor Slaszlo (Paul Henreid), já conhecido pela Europa por ter fugido de um campo de concentração e disseminar ideias revolucionárias. Pelo que a polícia já sabe, Victor pretende comprar dois salvo-condutos com Ugarte (Peter Lorre), e, assim, deixar Casablanca para partir rumo à América.



      Seria simples se Ugarte não tivesse sido preso na noite em que Victor iria negociar com ele. Seria simples também se Ugarte, por medo da polícia, não tivesse deixado os vistos de saída nas mãos de Rick, e ter sido morto pelos policiais depois. O que restou foi o mistério de com quem aqueles salvo-condutos estariam, afinal, Richard manteve-se completamente discreto e alheio sobre o assunto.


      Como se não bastasse, Victor chega acompanhado de Ilsa Lund (vivida pela lindíssima Ingrid Bergman). É possível perceber que ela já tem alguma familiaridade no local, pois conhece o pianista, Sam (Dooley Wilson), e lhe pede pra tocar uma música específica, As Time Goes By. Ela vê, então, Rick, e dá pra notar que entre os dois já houve alguma coisa.



      De fato, isso é explicado em seguida: Rick e Ilsa se conheceram e se apaixonaram em Paris. Ele tinha um passado consideravelmente nebuloso, por ter lutado com os revolucionários na Espanha. Então, era caçado, assim como estava sendo Victor. Então, quando o casal resolveu deixar Paris para começar uma vida nova, Ilsa abandonou Rick, deixando apenas um bilhete sem maiores explicações.

(Tradução: Richard, não posso ir com você ou vê-lo novamente. Você não deve perguntar o porquê. Apenas acredite que te amo, meu querido, e Deus te abençoe. Ilsa)

      Então, dá pra perceber que o clima entre Rick e Ilsa não é dos melhores. Quando eles se encontram, Richard, na mesma noite, começa a beber muito – o amor que ele sente é tão lindo, apesar de ser cheio de mágoa e tristeza! Enquanto isso, Ilsa também não mantém seu equilíbrio, o que deixa claro que o que ambos sentem ainda é algo latente.

      Enquanto isso, o Major Stasser, com a ajuda do Capitão Renault, planejam fechar cada vez mais o cerco, pra impedir outra fuga de Victor. Vale dizer que o capitão não vai muito com a cara do major, e ele dá mostras disso ao longo do filme, principalmente no final.

      E a trama vai rolando entre a perseguição velada a Victor, o amor ainda existente entre Rick e Ilsa e as tentativas de conseguir os salvo-condutos. Rick, inclusive, vai dando mostras de que, sob aquela casca recheada de sarcasmo e indiferença ao que acontece fora de seu bar, há um homem de coração incrível, que pode fazer de tudo pra ajudar quem merece. Devo parar por aqui pra não dar muito spoiler, pois devo dizer que o final de Casablanca é surpreendente.


      Bom, o que dizer de um filme clássico, com 70 anos (sua estreia mundial ocorreu em 26 de novembro de 1942), feito com a temática da Guerra DENTRO da Guerra mas expirando romance? Acontece tanta coisa em Casablanca que o filme não fica nada apelativo, nem em relação à guerra, nem em relação ao romance. É um equilíbrio incrível, que não te deixa entediado em nenhum minuto.

      É possível analisar o filme sob uma série de ângulos diferentes, e criei premissas pequenas para cada um deles: uma história de amor desenvolvida na Guerra, a política influenciando a polícia, uma história de infidelidade, a metamorfose que pode ser realizada pelo amor. Tudo isso consegue descrever partes de Casablanca, mas não o todo. Afinal, são todas essas frases juntas que definem o filme, e tantas outras, que cada espectador pode criar.

      Cabe ressaltar a sensibilidade de Ingrid Bergman nesta película. Além da beleza – que não precisa nem ser comentada – a paixão com que ela fazia cada cena era incrível. Só pra constar, é essa uma das razões pelas quais prefiro filmes mais antigos: coloquei na cabeça que os atores aceitavam os papeis por amor e não por dinheiro (posso estar errada, mas prefiro pensar assim), o que deixava as atuações tão perfeitas. O casal Humphrey Bogart e Ingrid Bergman foi, sem dúvida, uma bela escolha, assim como Paul Henreid, pelo qual é possível se afeiçoar bastante, mesmo sendo ele quem pode atrapalhar o romance de Rick e Ilsa.


      Enfim, nem preciso dizer que recomendo MUITO esse filme. Além disso, deixo claro aqui que não tô puxando toda essa sardinha só porque é clássico, não; é porque é bom mesmo. Até a próxima.

We will always have Paris.

Resenha por: Stephanie Eschiapati