Título forte, que me
atraiu pra assistir ao filme. Não me arrependi.
J'AI TUÉ MA MÈRE (2009)
O filme tem um roteiro
aparentemente simples: a dura
convivência entre Hubert, um
adolescente de 17 anos (vivido por Xavier
Dolan, que também dirige a película – aliás, invejinha básica dele, afinal,
dirige e protagoniza um filme tão intenso aos 23 anos de idade) e sua mãe, Chantal (Anne Dorval). É a típica família monoparental, pois, após o
divórcio dos pais (que ocorreu quando Hubert
tinha sete anos), seu pai, Richard (Pierre Chagnon), se afasta
consideravelmente dos dois.
Hubert podia ser só um adolescente revoltado
como tantos outros, mas é perceptível que a revolta dele não é normal: ele
odeia a mãe, e não é aquela raivinha que bate quando a mãe não deixa sair, não,
é ódio mesmo. Ele odeia as roupas que ela veste, o jeito como ela come e como
mantém a casa. Qualquer assunto dá margem a discussões, permeadas por palavrões
e muita falta de respeito.
Chega a dar aflição
acompanhar as brigas. Mesmo porque elas começam por motivos extremamente fúteis
e terminam sem pé nem cabeça. Grande parte do filme gira em torno dessas
discussões, que dividem espaço com manifestações de amor incondicional entre
mãe e filho. É tudo muito estranho, pra ser sincera.
Um detalhe muito
interessante é que várias cenas do filme parecem um documentário: Hubert fica em frente à câmera falando o
que sente pela mãe. São sentimentos confusos, pois, segundo ele mesmo, ele a
ama, mas não como filho; mataria alguém que tocasse nela, mas existem centenas
de pessoas que ele ama mais do que a própria mãe.
Hubert começa uma grande amizade com sua
professora, Julie (Suzanne Clément), em decorrência de
seus problemas familiares. Os dois compartilham a mesma dor: enquanto o garoto
não se dá bem com a mãe, a professora não se dá bem com o pai.
A situação fica ainda mais
tensa quando os pais de Hubert – sim,
OS PAIS, afinal, depois de quatro meses sem dar notícia, Richard Minel resolve dar as caras – decidem colocá-lo em um
colégio interno. Isso aumenta ainda mais a revolta do garoto, que, devido a
essa experiência, começa a ver a vida de um jeito diferente.
Minha primeira reação ao
término desse filme foi: “Nossa, preciso escolher um lado”. É mais ou menos por
aí. São dois opostos: a mãe, mulher média, trabalhadora, que tem de criar um
filho sozinha; e o filho de 17 anos, sensivelmente mimado e marrento. São as
duas ópticas pelas quais você pode assistir a esse filme, e, ao final, ver quem
tem razão – se é que alguém tem razão.
Parcialmente falando, se é
pra escolher um dos dois, eu escolho o da mãe. Vi um pouco de mim no Hubert, e o espectador provavelmente
sentirá o mesmo. A questão é que sua mãe, apesar de parecer fria às vezes, é só
uma mulher maltratada pela vida, cansada, sem paciência pros showzinhos do
filho, na verdade. Não a critico porque não consegui enxergar, no decorrer do filme, motivos reais
pro Hubert ser tão revoltado. Ele
apenas não conseguiu enfrentar, na boa, uma situação que tanta gente enfrenta
hoje em dia: a separação dos pais.
Críticas à parte, J'ai Tué ma Mère pode ser considerado um
filme muito bom. A sensibilidade conferida à película por Xavier Dolan – por ser diretor e protagonista, na minha opinião –
força, em cada cena, o espectador a pensar, se enxergar, como um espelho.
Existe, existiu ou existirá um pouco de Hubert
em cada um de nós, em maior ou menor intensidade.
Gosto de filmes em que os
diálogos são fortes e os silêncios, reveladores. Esse filme é assim. A gente
não precisa esperar que Hubert e Chantal se falem o tempo todo pra
entender o filme; a sintonia entre Xavier
Dolan e Anne Dorval é linda. O
filme é forte como um todo: desde o seu título, no mínimo, controverso; até as
cenas mais básicas, que te fazem parar e pensar: o que eu sinto pela minha mãe? Super recomendo, galera. Até.
Resenha por: Stephanie Eschiapati
P.S.: Mamãe, te amo :3
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