sábado, 23 de fevereiro de 2013

O Substituto (Desapego)

E nunca me senti tão profundo e ao mesmo tempo tão alheio de mim 
e tão presente no mundo” – Albert Camus.

DETACHMENT (2011)



      Detachment significa indiferença, distanciamento, desinteresse. O filme, no cinema nacional, já teve o nome de “Desapego”, o que faz jus a trama. Porém, como o brasileiro sempre gosta de piorar o que já está bom, traduziu Detachment de forma ordinária para: O SUBSTITO. Mas OK, a gente supera. Já aconteceram tantas traduções chulas nesse Brasil, que a gente acaba se acostumando, como tudo na vida.

      Enfim, here we go: dirigido por Tony Kaye (A Outra História Americana), o filme relata a história de Henry Barthes (Adrien Brody), um professor substituto que vai rumo ao seu novo emprego. A escola em que vai lecionar comporta os mais variados tipos de alunos, mas, em sua maioria esmagadora, aqueles que não dão a mínima ao professor, ao ensino e à escola. Resumindo: é um lugar que reúne os mais preconceituosos e violentos tipos. Sua relação vai ter como patamar quatro importantes bases: uma prostituta menor de idade, chamada Erica (Sami Gayle), uma professora da escola (Christina Hendricks), seu avô doente (Louis Zorich) e uma aluna, Meredith (Betty Kaye), que possui uma doença chamada obesidade.



      No decorrer do filme, flashbacks em paleta vermelha revelam momentos de sua infância, mais ou menos quando Henry tinha 7 anos. São momentos que, apesar de confusos no início, nos permitem perceber os motivos que levaram Henry a se tornar uma pessoa tão triste e alheia ao mundo ao seu redor. Cenas que envolvem imagens de sua mãe, mais as alucinações que seu avô tem, quando chama pelo seu nome e conversa com ela, sempre pedindo desculpas, apesar de ela já estar morta, nos trazem indícios de que alguma coisa ruim aconteceu na história dos dois. Mas Henry, com a pouca idade que tinha, nunca pôde compreender do que se tratava, por isso tem apenas lembranças vagas e insuficientes dos acontecimentos que ocorreram em sua infância.



      Não vou me atrever a julgar essa parte da relação com seu avô e sua infância como menos importante para a película. Acho que todos os momentos do filme possuem um certo peso essencial, que não podem ser excluídos. Logo, em decorrência, não vou dizer que o tema principal do filme é a educação norte-americana defasada. Dependendo do ponto de vista de cada um, pode ser que essa seja a parte principal, mas também pode ser que não a seja, devido a tantas outras partes importantes (como a crise existencialista, que é super abordada nesse filme).


      A próxima relação que vou discriminar, uma das mais bonitas e emocionantes do filme, é com a prostituta menor de idade, chamada Erica. Apesar de ser um tanto quanto niilista e alheio ao mundo, ele decide acomodá-la em sua casa, primeiro, por se tratar de uma criança, segundo, por ele ver o quão prejudicada pela vida ela foi, tanto no sentido físico quanto no mental. A relação que ele desenvolve com ela me lembrou muito a do Léon e Mathilda, no filme Léon (O Profissional, 1994). Quem já viu esse filme entende a beleza que o contato entre uma criança e um adulto desconhecidos pode estabelecer. Apesar de se dar bem com a pequena, seu perfil de desapego não desaparece, e ele sempre toma decisões que nem sempre refletem seus verdadeiros desejos.




      Uma das personagens mais marcantes desse filme é Meredith, garota obesa que é humilhada por várias pessoas, inclusive por seus pais (no filme, mostra especificamente as humilhações de seu pai). A questão da vida versus a morte, a questão do carpe diem e do suicídio, também são retratadas nesse filme, principalmente personificadas nessa garota. Se a escola comporta os piores tipos de aluno, imaginem a intensidade do bullying que ela sofre. Ela é um dos poucos alunos que realmente se dedicam à educação, e busca no professor Henry um suporte para seus problemas. Existem vários momentos do filme que mostram a relação de Henry com Meredith, e são tão fodas (com o perdão da palavra), e com acontecimentos tão chocantes, que isso se torna mais um forte do filme; dá aquela vontade de voltar o filme alguns minutos só pra apreciar novamente a intensidade das cenas.



      E, por fim, existe a relação dele com a Senhorita Madison (Christina Hendricks), que, apesar de ser efêmera, também é importante. Na essência, essa professora é um tanto quanto igual ao Henry – ela, por exemplo, afirma que possui medo de voltar sexta-feira de noite pra casa, pois não sabe como vai lidar com a vida que tem fora da escola. O apego que ela criou dentro do estabelecimento educacional transformou-a numa pessoa que não sabe lidar com o mundo afora.


      A crise existencial, posso afirmar, é o tema mais abordado nesse filme. Todos os personagens possuem problemas familiares, o que pode ser um dos principais fatores que os tornaram como são. Todos carregam uma máscara de suposto equilíbrio, satisfação, constância; mas, quando largam o expediente e voltam para suas casas, a situação se inverte, e o que antes foi disfarçado, explode em situações de tristeza e raiva. Resumindo, é como diz a música: vou negando as aparências, disfarçando as evidências. Uma das cenas mostra quando o véu cai e o sentimento de ódio, raiva, cansaço e insatisfação estoura sem controle – quando a psicopedagoga, Doutora Parker (Lucy Liu), joga na cara de uma aluna palavras fortes e realistas, sobre como é a falta de ambição que os alunos têm e que restará a ela (a aluna), se conseguir, apenas a sobrevivência à base de um salário mínimo.



      O papel do filme não é ser moralista, mas sim realista. O comodismo que existe atualmente é um dos principais alvos criticados. Muitas das pessoas que viram o filme disseram sentir-se deprimidas quando lembravam das cenas. Do jeito que o filme é montado, principalmente com o corte das cenas e com a trilha sonora ao fundo, realmente traz um sentimento estranho e angustiante. A filmagem é diferente da tradicional; é aquilo que muitos chamam de filme “alternativo”. Mas isso não impede que seja um filme maravilhoso; aliás, isso faz com o filme pareça mais intenso a cada minuto que passa. Você começa a assistir e a vontade de pausar, nem que seja pra ir ao banheiro, não existe mais. O filme simplesmente flui.

      Até que ponto a vida vale a pena? Não seria mais fácil se desapegar de tudo e todos, no sentido de não deixar o sentimento interferir nas relações? A morte não é o lado mais calmo? Se uma vida é cheia de tristeza e sofrimento, deveriam as pessoas escolher o outro lado, por ser mais fácil? De onde surgem tantos problemas, se apenas o que fazemos é nos esforçar pra fazer do mundo um lugar melhor? Até quando conseguiremos suportar a imensa pressão da sociedade sobre nossos ombros? Deduzi que essas são as principais questões abordadas no filme, e, resumindo em apenas uma pergunta: devemos continuar vivos?


      E, pra finalizar: mesmo que o filme fosse ruim, valeria a pena assisti-lo apenas pelo Adrien Brody (O Pianista). Gente, que ator é esse, hein?! Suas interpretações são tão magníficas que beiram ao real. Então, se alguém tem dúvida em assistir ou não a esse filme, veja apenas pelo Adrien, porque esse cara é brilhante.


Resenha por: Rebeca Reale

      Link para download (formatos RMVB legendado e HD):
      Clique aqui.

Um comentário:

  1. Amei o filme! Confesso que chorei horrores quando Henry deixou Erica e quando Meredith se suicidou, mas continuo com vontade de assistir mais e mais vezes. Profundo e tocante. Simplesmente amei.

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