“E nunca me senti
tão profundo e ao mesmo tempo tão
alheio de mim
e tão presente no mundo” – Albert Camus.
DETACHMENT (2011)
Detachment significa indiferença, distanciamento,
desinteresse. O filme, no cinema nacional, já teve o nome de “Desapego”, o que
faz jus a trama. Porém, como o brasileiro sempre gosta de piorar o que já está
bom, traduziu Detachment de forma ordinária para: O SUBSTITO. Mas OK, a
gente supera. Já aconteceram tantas traduções chulas nesse Brasil, que a gente
acaba se acostumando, como tudo na vida.
Enfim, here we go:
dirigido por Tony Kaye (A Outra
História Americana), o filme relata a história de Henry Barthes (Adrien Brody), um professor substituto
que vai rumo ao seu novo emprego. A escola em que vai lecionar comporta os mais variados tipos de alunos, mas, em sua
maioria esmagadora, aqueles que não dão a mínima ao professor, ao ensino e à
escola. Resumindo: é um lugar que reúne os mais preconceituosos e violentos
tipos. Sua relação vai ter como patamar quatro importantes bases: uma
prostituta menor de idade, chamada Erica (Sami
Gayle), uma professora da escola (Christina
Hendricks), seu avô doente (Louis Zorich) e uma aluna, Meredith (Betty Kaye), que possui uma doença
chamada obesidade.
No decorrer do filme,
flashbacks em paleta vermelha revelam momentos de sua infância, mais ou
menos quando Henry tinha 7 anos. São momentos que, apesar de confusos no
início, nos permitem perceber os motivos que levaram Henry a se tornar
uma pessoa tão triste e alheia ao mundo ao seu redor. Cenas que envolvem
imagens de sua mãe, mais as alucinações que seu avô tem, quando chama pelo seu
nome e conversa com ela, sempre pedindo desculpas, apesar de ela já estar
morta, nos trazem indícios de que alguma coisa ruim aconteceu na história dos
dois. Mas Henry, com a pouca idade que tinha, nunca pôde compreender do
que se tratava, por isso tem apenas lembranças vagas e insuficientes dos
acontecimentos que ocorreram em sua infância.
Não vou me atrever a julgar
essa parte da relação com seu avô e sua infância como menos importante para a
película. Acho que todos os momentos do filme possuem um certo peso essencial,
que não podem ser excluídos. Logo, em decorrência, não vou dizer que o tema
principal do filme é a educação norte-americana defasada. Dependendo do ponto
de vista de cada um, pode ser que essa seja a parte principal, mas também pode
ser que não a seja, devido a tantas outras partes importantes (como a crise
existencialista, que é super abordada nesse filme).
A próxima relação que vou discriminar,
uma das mais bonitas e emocionantes do filme, é com a prostituta menor de
idade, chamada Erica. Apesar de ser um tanto quanto niilista e alheio ao
mundo, ele decide acomodá-la em sua casa, primeiro, por se tratar de uma
criança, segundo, por ele ver o quão prejudicada pela vida ela foi, tanto no
sentido físico quanto no mental. A relação que ele desenvolve com ela me
lembrou muito a do Léon e Mathilda, no filme Léon (O
Profissional, 1994). Quem já viu esse filme entende a beleza que o contato
entre uma criança e um adulto desconhecidos pode estabelecer. Apesar de se dar
bem com a pequena, seu perfil de desapego não desaparece, e ele sempre toma
decisões que nem sempre refletem seus verdadeiros desejos.
Uma das personagens
mais marcantes desse filme é Meredith, garota obesa que é humilhada por
várias pessoas, inclusive por seus pais (no filme, mostra especificamente as
humilhações de seu pai). A questão da vida versus a morte, a questão do carpe
diem e do suicídio, também são retratadas nesse filme, principalmente
personificadas nessa garota. Se a escola comporta os piores
tipos de aluno, imaginem a intensidade do bullying que ela sofre. Ela é
um dos poucos alunos que realmente se dedicam à educação, e busca no professor Henry
um suporte para seus problemas. Existem vários momentos do filme que mostram a
relação de Henry com Meredith, e são tão fodas (com o perdão da
palavra), e com acontecimentos tão chocantes, que isso se torna mais um forte
do filme; dá aquela vontade de voltar o filme alguns minutos só pra apreciar
novamente a intensidade das cenas.
E, por fim, existe a
relação dele com a Senhorita Madison (Christina Hendricks), que, apesar de ser efêmera, também é
importante. Na essência, essa professora é um tanto quanto igual ao Henry
– ela, por exemplo, afirma que possui medo de voltar sexta-feira de noite pra
casa, pois não sabe como vai lidar com a vida que tem fora da escola. O apego
que ela criou dentro do estabelecimento educacional transformou-a numa pessoa
que não sabe lidar com o mundo afora.
A crise existencial, posso afirmar, é o tema mais abordado nesse
filme. Todos os personagens possuem problemas familiares, o que pode ser um dos
principais fatores que os tornaram como são. Todos carregam uma máscara de
suposto equilíbrio, satisfação, constância; mas, quando largam o expediente e
voltam para suas casas, a situação se inverte, e o que antes foi disfarçado,
explode em situações de tristeza e raiva. Resumindo, é como diz a música: vou
negando as aparências, disfarçando as evidências. Uma das cenas mostra
quando o véu cai e o sentimento de ódio, raiva, cansaço e insatisfação estoura
sem controle – quando a psicopedagoga, Doutora Parker (Lucy Liu), joga na cara de uma aluna
palavras fortes e realistas, sobre como é a falta de ambição que os alunos têm
e que restará a ela (a aluna), se conseguir, apenas a sobrevivência à base de
um salário mínimo.
O papel do filme não é ser moralista, mas sim
realista. O comodismo que existe atualmente é um dos principais alvos
criticados. Muitas das pessoas que viram o filme disseram sentir-se deprimidas quando
lembravam das cenas. Do jeito que o filme é montado, principalmente com o corte
das cenas e com a trilha sonora ao fundo, realmente traz um sentimento estranho
e angustiante. A filmagem é diferente da tradicional; é aquilo que muitos
chamam de filme “alternativo”. Mas isso não impede que seja um filme
maravilhoso; aliás, isso faz com o filme pareça mais intenso a cada minuto que
passa. Você começa a assistir e a vontade de pausar, nem que seja pra ir ao
banheiro, não existe mais. O filme simplesmente flui.
Até que ponto a vida vale a pena?
Não seria mais fácil se desapegar de tudo e todos, no sentido de não deixar o
sentimento interferir nas relações? A morte não é o lado mais calmo? Se uma
vida é cheia de tristeza e sofrimento, deveriam as pessoas escolher o outro
lado, por ser mais fácil? De onde surgem tantos problemas, se apenas o que
fazemos é nos esforçar pra fazer do mundo um lugar melhor? Até quando conseguiremos
suportar a imensa pressão da sociedade sobre nossos ombros? Deduzi que essas
são as principais questões abordadas no filme, e, resumindo em apenas uma
pergunta: devemos continuar vivos?
E,
pra finalizar: mesmo que o filme fosse ruim, valeria a pena assisti-lo apenas
pelo Adrien Brody (O Pianista).
Gente, que ator é esse, hein?! Suas interpretações são tão magníficas que
beiram ao real. Então, se alguém tem dúvida em assistir ou não a esse filme,
veja apenas pelo Adrien, porque esse
cara é brilhante.
Resenha por: Rebeca Reale
Link para download (formatos RMVB legendado e HD):
Amei o filme! Confesso que chorei horrores quando Henry deixou Erica e quando Meredith se suicidou, mas continuo com vontade de assistir mais e mais vezes. Profundo e tocante. Simplesmente amei.
ResponderExcluir