"Sim,
eu trabalhava em uma barbearia. Mas nunca me considerei um barbeiro.”
THE MAN WHO WASN'T THERE (2001)
The Man Who Wasn’t There
se passa na década de 1940 e trata da pacata e monótona vida de Ed Crane (Billy Bob Thornton), um barbeiro que trabalha no salão de seu
cunhado, Frank (Michael Badalucco). Ed é
casado com Doris (Frances McDormand), que, logo à
primeira vista, já se mostra completamente diferente dele. Ela trabalha como
contadora na loja Nirdlingers, cujo
proprietário, Big Dave Brewster (James Gandolfini), é um excêntrico e
convencido homem, casado, assim como Ed,
com uma esposa completamente diferente de si, Ann (Katherine Borowitz).
(Ed Crane)
(Doris)
(Big Dave Brewster)
(Ann, a assustada esposa de Dave)
Não
só os espectadores percebem logo de cara, mas Ed também sabe que sua esposa e o patrão dela têm um caso. Isso é
tão visível que chega a irritar. Mas Ed,
no fundo, não se importa; talvez porque não a ame, talvez porque já se
conformou que aquele casamento é uma farsa, enfim, tirem suas conclusões. A
questão é que, ao contrário do que muita gente faria, Ed não pensa em vingança nem nada parecido por certo tempo.
Um
dia, entretanto, quase no fim do expediente da barbearia, aparece um sujeito
falante, que se dizia um grande negociante de passagem pela cidade, Creighton Tolliver (Jon Polito). Segundo o cara, seu negócio era “a maior oportunidade
de negócio desde Henry Ford”: lavagem a seco. Ele precisava, porém, de um sócio
comanditário (pra quem não sabe, esse tipo de sociedade – a comandita, que hoje
não existe mais – demanda um sócio
comanditário, que entra com o capital, e um ou mais sócios comanditados, responsáveis pela mão de obra) que
apresentasse a razoável quantia de 10 mil dólares pra dar vazão ao negócio.
É claro
que Ed não dá a menor importância
para o falastrão, mas, depois de um tempo, passa a considerar a hipótese de se
unir a ele para a tal sociedade. E tem até uma ideia de como conseguir o
dinheiro: chantageando Big Dave. Ele,
então, manda uma carta anônima
ao patrão da esposa, dizendo saber do caso de Dave e Doris, e exigindo
10 mil dólares pra não espalhar a história.
(Tradução: Eu sei sobre você e Doris Crane. Colabore ou Ed Crane saberá. Sua esposa saberá. Todos saberão. Junte 10 mil dólares e aguarde instruções.)
O
mais engraçado é que Dave, no dia de
uma festa da Nirdlingers, chama Ed de canto pra conversar e fala
exatamente sobre isso. Claro que não cita nomes, mas fica claro que o caso com
a “mulher casada” é com Doris. Ele diz
que tem medo do que pode acontecer se não pagar o chantagista – e deem um close
na “poker face” de Ed enquanto ouve a
história –, visto que a loja é de sua esposa, mas não pode pagar sem se quebrar
financeiramente.
Ed não o aconselha, na verdade. Apenas escuta.
E Dave paga, o barbeiro pega o
dinheiro e, no mesmo dia, vai até Creighton
pra entregar o dinheiro e “começar” o negócio. O problema é que Dave descobre tudo, e, numa noite, chama
Ed na loja e conta que descobriu
tudo. Os dois entram em luta corporal e Ed
o mata. Como era tarde da noite e ninguém o viu, ele simplesmente sai da loja e
volta pra casa. Tudo – e eu disse tudo mesmo – começa a dar errado a partir
daí. Uma história aparentemente simples foge de controle, e a vida do
mal-humorado barbeiro Ed Crane vira
de pernas pro ar.
The Man Who Wasn’t There é um retrato simples, mas intenso, de
uma vida que tinha tudo pra ser constante do início ao fim. Ed é um ser humano totalmente alheio à
sua realidade – ele simplesmente não está
lá. Não vi Ed dar uma risada, ou
um sorriso aberto, durante quase duas horas de filme. Além disso, o que mais me
surpreendeu foram as questões existenciais que ele aborda – desde o crescimento
do cabelo humano até seu próprio casamento.
A
narração em primeira pessoa dá a impressão de que você é Ed Crane. E, se você parar pra pensar, você pode ter algo dele. É claro
que não tão niilista nem tão azarado, mas, se você é infeliz no casamento, no
trabalho, ou insatisfeito com a própria vida que leva, SIM, sinto informar, mas
há algo do Crane em você. Cabe a cada
um de nós fazer o possível pra que as coisas sejam diferentes.
Lições
de moral à parte (foco, Stephanie, haha), The
Man Who Wasn’t There é um ótimo filme. Faz pensar em uma série de coisas, e
te surpreende em uma série de pontos – sem dar spoiler, e pra dar um exemplo, tem uma parte do filme que se parece
um bocado como filme Lolita (muito
bem resenhado pela Rebeca aqui no blog). Enfim, super recomendo. Até a próxima.
Resenha por: Stephanie Eschiapati
Acabo de conhecer o blog de vocês, estava pesquisando para uma postagem no meu blog, e cheguei nessa aqui. Parabéns pelo blog, é muito legal, especialmente para cinéfilos.
ResponderExcluirEspero que vocês não se importem, mas linquei o blog de vocês no meu, na lista de outros blogs legais.