“Festa
estranha, com gente esquisita, eu não tô legal, não aguento mais birita (...)”
EYES WIDE SHUT (1999)
Eyes Wide Shut conta a história de um casal
aparentemente perfeito para os moldes americanos: Dr. Bill Halford (Tom Cruise)
é um médico renomado de Nova York, e Alice
(Nicole Kidman) é uma curadora
de arte, no momento desempregada para cuidar da filha Helena (Madison Eginton).
Eles parecem se amar muito, pelo menos.
Essa
é a questão: eles aparentam se amar, mas, na minha opinião, é tudo uma grande
farsa. Existe amor, mas este fica embolado em vários outros sentimentos,
principalmente no amor próprio de cada um deles. Isso fica perceptível logo no
começo do filme, em que eles vão a uma festa de Natal feita por um rico
paciente de Bill: nessa festa, eles
ficam separados praticamente todo o tempo, e, enquanto Alice dança de modo convidativo com um homem, Bill fica rodando pelo salão de braços dados com duas moças bem
bonitas.
Depois dessa festa, o casal volta para o apartamento e, durante uma conversa no quarto, Alice confessa que, em uma das viagens do casal, ela se sentiu fortemente atraída por um marinheiro, a ponto de abandonar a família caso ele a quisesse. Essa confissão bagunçou MUITO a cabeça de Bill, e, ao mesmo tempo, um de seus pacientes morreu.
Ele teve de sair, e, na casa desse paciente, ele “recebe” uma declaração de amor da filha do falecido. Já abalado, em vez de ir pra casa ele sai andando pela cidade, entra em um bar e se depara com um ex-colega de faculdade, Nick Nightingale (Todd Field) tocando piano. Terminado o show, os dois bebem um drink e o pianista recebe uma ligação para tocar em um local super secreto e cheio de ressalvas e exclusivo para convidados. Bill insiste e consegue a senha do local, e ruma pra lá.
Primeiro,
ele vai a uma loja de fantasias para alugar uma capa e uma máscara, necessários
para entrar na referida festa. Até o dono da loja é um sujeito estranho. Ele
consegue, pega um táxi e vai pro local indicado pelo colega, diz a senha e
entra. Coisa que ele não deveria ter feito. O
local da festa tratava-se de uma mansão, ampla, espaçosa e luxuosa. Nele, todos
usavam capas pretas e máscaras (o que, pra mim, foi extremamente perturbador),
e havia muitas mulheres seminuas dançando e realizando algum tipo de ritual.
Era um grande prostíbulo, na verdade.
Bill ficou perplexo com tudo aquilo e, enquanto ia andando pela mansão, uma das moças o avisou de que não era seguro ficar ali, e que ele estava correndo perigo. Claro que ele não a ouviu, até que descobriram que ele era um intruso e revelaram sua identidade para todos. Ele foi embora, desolado, mas tinha a intenção de esquecer o que houve.
A
partir daí é que as coisas ficam estranhas, porque ele fica com a impressão de
que aquela “seita” tinha assassinado seu colega, Nick, bem como a moça que o avisou sobre o perigo que ele corria. O
filme, então, passa a mostrar a desesperada investigação de Bill, bem como a distância que ele vai
tomando da esposa e da filha. E ele descobre coisa que pode deixar vocês –
assim como me deixou – boquiabertos.
Eyes Wide Shut mostra o jogo de aparências em que se
baseiam as relações, desde as mais simples até as mais complexas, como o
casamento. Tanto Bill quanto Alice pensam mais em si mesmos que em sua família, e disfarçam isso
o máximo que podem. Cada um deles têm seu orgulho, seus desejos contidos e suas
frustrações, mas escondem isso sob a casca de um casamento aparentemente feliz.
Podem
me chamar de viajada, mas, assim que terminei de assistir ao filme, a primeira
coisa em que pensei foi no livro Dom
Casmurro, do meu querido Machado de
Assis. Claro que há ressalvas, mas consegui fazer certa comparação entre o Bentinho e o Bill: ambos ficaram transtornados por algo que nem chegou a
acontecer (ANTES QUE DIGAM QUALQUER COISA, eu não acredito na traição da Capitu, e não vou entrar nesse mérito),
transtorno causado por um misto de insegurança e orgulho ferido. Uma simples
suspeita, no caso do Bentinho, e uma
confissão, no caso de Bill, tiveram
um efeito devastador em ambos.
Eyes Wide Shut mostra as relações humanas sem censura:
desde o sexo sem sentimento, quase que animalesco, em que não é preciso nem se
identificar, até o casamento feliz que não passa de aparência. Enfim, é legal
pra se pra se pensar, e é do Kubrick também, então a história não teria como
ficar maçante ou algo assim. Até mais.
CURIOSIDADES (que já
viraram marca registrada desse blog lindo):
- Eyes Wide Shut foi o último filme de Kubrick, que morreu
cinco dias depois de entregar à Warner o corte final do filme;
-
Cruise e Kidman eram casados na vida real quando realizaram as filmagens;
-
Reza uma lenda – que tem ares de teoria da conspiração – de que Kubrick teria sido
assassinado por explorar, nas cenas da mansão, a essência dos rituais sexuais secretos
da elite global, como o Bohemian Club;
-
O filme foi baseado no livro Traumnovelle,
de Arthur Schnitzler (1926);
-
A senha fidelio, usada por Bill pra entrar na mansão, vem do latim “fidelis”,
que significa fidelidade.
Resenha por: Stephanie Eschiapati
Acordei com vontade de rever o filme (afinal, quando o vi ainda era uma criança e não entendi nem um décimo do que estava acontecendo, só fiquei intrigado com todas aquelas "informações" em tela rs), aí cheguei ao blog de vocês.
ResponderExcluirGostei principalmente do modo como você expôs suas opiniões e "resumiu" a história, arrisco dizer que em diversos aspectos foi mais satisfatório do que sites pseudoespecialistas nisso. Ler esse post me fez relembrar tudo o que consegui ver antes de desistir do filme (acredite, as máscaras foram ainda mais perturbadoras pra uma criança de, sei lá, uns 11 anos, sem falar naquela "atmosfera" tão característica dos filmes do Kubrick) e serviu pra intensificar minha vontade de vê-lo novamente.
Meus parabéns. :)
Link desativado ?
ResponderExcluirVocê viu quando criança !? :O rsrs
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