“Deus
nos dá familiares. Graças a Deus podemos escolher nossos amigos.”
MARY AND MAX (2009)
A
grandiosa frase acima, de Ethel Mumford, traduz exatamente sobre o que se trata o
filme Mary and Max: uma história de amizade. Mas fiquem atentos: não é uma
amizade normal, como essas banais que
temos por aí. Como traduzido para a língua brasileira, trata-se de “Uma Amizade
Diferente”, e isso ocorre devido às características peculiares presentes em cada personagem, principalmente em Mary e em Max. Começarei descrevendo-os.
MARY:
MARY:
Mary é uma menina de oito anos que vive na Austrália dos anos 70, e o fator preponderante de sua vida é a infelicidade. No começo do filme, suas características são apresentadas, conforme veremos a seguir:
-
ela tem na testa uma marca de nascença da cor de cocô;
-
ela usa um anel de humor que sempre fica cinza, o que significa que ela pode
estar pensativa, inconscientemente ambiciosa ou com fome;
-
seus únicos amigos são Os Noblets, bonecos de seu desenho preferido; ela os
adora porque são marrons, moram em bule de chá e têm um monte de
amigos.
-
ela ama comer leite condensado direto na lata.
Desde já começamos a perceber a influência que (in)felizmente a
família exerce sobre a personalidade de Mary. Precisamos, portanto, conhecer também as pessoas que convivem com ela.
O
hobby do pai de Mary é sentar-se em seu barraco, beber Licor Irlandês e
empalhar os pássaros que encontrou nas beiras das estradas (vale ressaltar que um dos desejos de
Mary é que seu pai passasse mais tempo com ela do que com os animais mortos).
Mary
também se sente confusa e estranha em relação a sua mãe, uma senhora que, dentre tantas outras doenças, é alcoólatra e cleptomaníaca (sua desculpa para justificar os inúmeros furtos é que ela estava “emprestando” as coisas).
MAX:
Max
vive em Nova York e, como Mary, também é infeliz com a vida que leva. Algumas
de suas características:
-
ele adora assistir Os Noblets, principalmente porque eles têm um monte de
amigos;
-
ele ama comer cachorro-quente de chocolate (inventado por ele mesmo);
- seu cérebro é muito objetivo;
-
ele tem Síndrome de Asparger.
-
ele é gordinho e participa do Comedores Anônimos (local que odeia frequentar, principalmente às quintas-feiras, pelo seguinte motivo: uma senhora, também participante do grupo, sempre lhe envia sinais não-verbais, como, por exemplo, piscadelas, deixando Max confuso e sem entender o que está acontecendo).
Outra
abordagem do filme é a relação/comparação entre a curiosidade infantil e a curiosidade das pessoas portadoras de síndrome de Asparger, como a questão "de onde vêm os bebês". O avô de Mary conta a ela que, na
Austrália, os bebês são encontrados no fundo dos copos de cerveja. Porém, a curiosidade de Mary supera distâncias: para ela, os bebês só nasciam desse jeito na Austrália; e nos outros lugares, de onde surgiam?
Max
recebe a carta e a lê quatro vezes. Sempre que algo inesperado, novo e
misterioso surge na vida de Max, ele se sente confuso e recua, pois essa é uma das características dos portadores da síndrome de Asparger. Ele
gosta de coisas estáveis. Um exemplo desse estilo de vida (estável) é demonstrado nos
momentos em que seu peixe Henry morre: no dia seguinte Max sempre vai à loja e
compra um peixe novo, para que sua vida não fique instável e irracional.
Ele tem 44 anos e acredita que as pessoas são muito confusas. Por que elas sempre
jogam bitucas de cigarro no chão? Por que não respeitam as leis? Por que não são
objetivas e diretas?
“Nova
York é um lugar muito agitado e barulhento. Eu preferiria viver em algum lugar
mais calmo, como a lua. Não gosto de multidões, luzes por todos os lados,
barulhos e cheiros fortes. Nova York tem tudo isso, especialmente os cheiros.
Eu acho os humanos interessantes, mas é difícil de entendê-los. Eu penso,
porém, que vou entender e confiar em
você.”
Qualquer pessoa no mundo, em normais circunstâncias, deseja ter um amigo, correto? E isso não é
diferente com aquelas que possuem problemas mentais, físicos ou quaisquer
outras ocorrências relacionadas. Max queria muito um amigo e, por este motivo, depositou toda a sua
confiança na carta que escreveu à Mary, esperando ansiosamente que ela atendesse às suas expectativas, para criar, assim, uma grande amizade.
Quando Mary
recebe a carta, ela fica animadíssima, como se sua vida estivesse prestes a
mudar (para melhor). Ao escrever de volta à Max, ela pede que as cartas sejam enviadas ao seu vizinho, para que não corresse novamente o risco de sua mãe encontrá-las e jogá-las no lixo, como já havia acontecido. O vizinho, como todos os personagens
da "peça", também possui uma doença: agorafobia, que é o medo enorme de sair de dentro de casa.
Ele também é paraplégico. Quando Mary responde a carta de Max, ela diz que
seu vizinho tem “homofobia” (medo de sair de casa).
Vinte
anos se passam, e Mary e Max continuaram se correspondendo.
Apesar
de ser uma bela amizade, é sabido que as coisas no mundo não tendem a permanecer eternamente coloridas e estáveis. Os problemas sempre surgem, porém é maravilhoso ver como
ambas as personagens lutam para que essa amizade tão forte, que durou por tanto tempo, não seja destruída. É inevitável: as pessoas erram (shit happens!). Mas os erros também devem ser perdoados.
Resenha por: Rebeca Reale
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