Você
aceitaria voltar no tempo com a cabeça que tem hoje, por um milhão de dólares?
QUERIDA VOY A COMPRAR CIGARRILLOS Y VUELVO (2011)
Queridos
leitores, vocês não leram errado. É realmente em torno dessa proposta um tanto
quanto maluca que se desenvolve o filme sobre o qual vou escrever hoje, uma
bela película argentina que não me arrependi de ver. Aliás, como já disse a
Rebeca no Después de Lucía, os filmes
estrangeiros vêm ganhando cada vez mais espaço, e este é realmente sensacional.
Bom,
mas vamos à história, com calma. Primeiro, a gente tem que conhecer quem foi a
pessoa que elaborou a proposta. Trata-se de um tipo do Marrocos, que, andando
pelo deserto, tomou nada mais, nada menos, que DOIS raios na cabeça (expliquem
essa, ateus): um o matou, o outro, o reviveu, dando-lhe alguns poderes e a
imortalidade. Desde então, ele anda pelo mundo fazendo “o que lhe dá na telha”
pois, em vez de ficar famoso exibindo seus poderes extraordinários por aí, ele
preferiu manter-se no anonimato. No filme, ele é apenas “o cara” – não tem
nome, e é interpretado por Eusebio
Poncella.
Ele
chega, então, na pacata cidade de Olivarría, na Argentina, e vai a um pequeno
restaurante. Com seus poderes, consegue ouvir o pensamento de todos no local,
mas um, em particular, o interessa bastante: de Ernesto (Emilio Disi),
que almoça com sua esposa, Rosa (Emma Rivera), mas pensa no grande fracasso
que foi sua vida.
Quando
ela vai ao banheiro, o homem dos poderes
chega em Ernesto e faz a proposta:
voltar a qualquer período de seu passado – infância ou juventude – por 10 anos,
com a cabeça que tem hoje, ou seja, a de um homem de 63 anos. Se para ele
passar-se-ão 10 anos, para quem está aqui o tempo dessa viagem não será maior
que 5 minutos – o tempo de ir até o bar e comprar cigarros. Tudo isso por um
milhão de dólares.
Claro
que o negócio parece sensacional, mas há duas regras principais: se Ernesto se meter em alguma encrenca por
lá e morrer, ele tem um ataque cardíaco fulminante aqui e nada de material que
ele conquistar lá poderá ser transportado pra cá.
Sem
tempo para pensar, Ernestito aceita o
desafio, e escolhe a data de 01 de outubro de 2000 para voltar. E a coisa já não
dá muito certo, porque ele vai ao asilo em que a mãe está para tentar se
reconciliar com ela e ela não o perdoa.
Claro
que eu não vou contar as coisas que lhe aconteceram, visto que toda a graça do
filme se perderia. Mas devo dizer que ele volta, basicamente, às três épocas de
sua vida (velhice mesmo – afinal, ele tinha 53 anos em 2000 –, juventude e
infância) e percebe que o milhão de dólares prometido não chegará às suas mãos
tão facilmente quanto pensou que chegaria.
Querida voy a Comprar
Cigarrillos y Vuelvo é
baseado no conto de mesmo nome escrito por Alberto
Laiseca, que também é narrador do filme. Sim, o autor aparece e, além de
contar algumas partes do filme, dá sua opinião nas escolhas de Ernestito. Lembra um pouco o que John Waters fez em Pink Flamingos, ainda que este só apareça ao final do filme.
Devo
dizer que foi um dos filmes mais niilistas que já vi. “A vida é um bolo de
merda” e afins são frases comuns no filme. Laiseca
é um homem visivelmente pessimista (ou realista, depende do ponto de vista), e
esfrega isso na nossa cara através de Ernesto:
ele é um homem feio, tem uma esposa feia e um emprego que odeia. Pra vocês terem
uma noção, o animal de estimação do nosso protagonista é uma tartaruga – mais um
elemento demonstrador da paradeira que é a vida daquele homem. Pra mim, o filme
é o retrato do tédio, e de uma vida inteira que deu errado – ou, pelo menos,
não deu certo.
A
temática da volta no tempo pode ser considerada lugar-comum no cinema. Filmes como
a trilogia Back to the Future, The Terminator e Butterfly Effect tratam desse tema, e deixam bem claro que voltas
ao passado ou idas ao futuro podem ser bem perigosas.
Aqui,
apesar do tema ser igual, a história não tem como foco essa necessidade de
voltar ou ir pra frente com o propósito de salvar o mundo ou tentar desfazer
coisas ruins. O imortal escolhe Ernesto porque sabe que ele simplesmente
nunca viveu. E quer lhe dar a oportunidade de viver – e bem que Ernesto reclama que em sua vida sempre
lhe faltaram oportunidades.
O
que nos faz pensar, claro, na proposta e em toda a nossa vida. Será que voltar
no tempo com a consciência e experiência que temos hoje nos traria bons
resultados? Será que voltar no tempo e tentar solucionar eventuais problemas
pendentes teria reflexos positivos no presente? E, afinal, se tivéssemos a
chance de voltar e “fazer tudo diferente” realmente faríamos tudo diferente?
Tá
aí um filme que, com apenas 1 hora e 20 minutos, me fez pensar bastante. Super recomendo,
sempre bom refletir. Até a próxima.
“As diversas idades de um
homem, eu as denominaria de campo de concentração. A cada ano, um arame farpado
eletrificado a mais. Trinta já é Auschwitz.”
Resenha por: Stephanie Eschiapati
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião sobre o blog ou sobre o filme!