Ainda não acredito que passei 20
anos da minha vida sem assistir a esse filme. Ao ver apenas uma vez, já entrou
em meus favoritos. É claro que já vi várias vezes, porque o filme é
simplesmente maravilhoso.
WHAT EVER HAPPENED TO BABY JANE? (1962)
Quem vir pela primeira vez talvez
fique confuso com a passagem temporal rápida da infância à velhice das duas
garotas, por isso vou explicar a história do filme, sem, contudo, dar spoiler.
Quando criança, Jane (Baby Jane), interpretada de forma
magnífica (juro, atuação extremamente perfeita) por Bette Davis, era uma criança-sucesso. A forma com que a família
ganhava dinheiro se devia aos seus famosos shows, onde ela cantava, dançava,
interpretava, e, ainda, alguns atos contavam com a participação de seu pai. Bonecas da Baby Jane eram vendidas, quase uma réplica perfeita da criança, até em termos de altura. Todo o
brilho era voltado à Baby Jane, todos
a amavam, a idolatravam, enfim, ninguém perdia seus shows e todos aplaudiam, ao
final, fervorosamente. Acontece que tal situação incomodava Blanche, irmã de Baby Jane, também interpretada de forma esplendorosa por Joan Crawford (que ganhou mais um fã depois
desse filme – eu). Blanche se
incomodava sempre com os modos autoritários e teimosos da irmã, que chegavam a
ser, muitas vezes, desrespeitosos.
(Baby Jane)
(Blanche, irmã de Baby Jane, e sua mãe)
Só que o tempo passa. Nem sempre
quem é famoso quando criança consegue manter esse dom quando cresce, e foi
exatamente isso o que aconteceu. Já na época em que ambas eram adultas,
mulheres formadas, todos deixaram de gostar de Baby Jane – era um sacrifício contratá-la para os filmes, pois a
maioria esmagadora a considerava uma péssima atriz. Como se costuma dizer, "o jogo
virou": quem virou uma atriz magnífica, que fez vários filmes e sempre era idolatrada
pela crítica, foi Blanche, a irmã de Baby Jane. Mas o destino interferiu, e
nem sempre as coisas continuaram assim: Blanche
sofre um acidente de carro (que é explicado ao fim do filme), e fica paraplégica (atenção, minha gente, isso
NÃO é spoiler!). Sobra, então, o
fardo desse acidente para a vida de Baby
Jane, pois é ela quem passa a ser a encarregada de cuidar da irmã paraplégica
até o fim de sua vida.
(Blanche)
(Jane)
A história chega, então, à fase em
que ambas estão “velhas”. Jane se
tornou uma alcoólatra acirrada, não se conformando que um dia a irmã pôde ser
mais famosa que ela. Ela simplesmente não aceita isso; para ela, a eterna Baby Jane ainda sobrevive no coração e
na mente de todos os cidadãos – e é isso que passa a atormentar sua mente
durante a trama. É verdade que Jane ama
Blanche, mas a inveja e a loucura
acabam ocupando um espaço maior na vida das duas irmãs. Blanche é inocente, carismática, ingênua, ama a irmã mais que tudo,
enfim, posso dizer que é uma pessoa pura e sem maldade alguma no coração,
diferente de sua irmã.
E toda essa inveja, essa loucura,
essa luxúria, todas ligadas ao consumo excessivo de álcool, faz com que Jane passe a maltratar a irmã. As
torturas psicológicas que Jane
emprega chegam a ser, muitas vezes, piores que as torturas físicas. Sabe aquelas
cenas em que você abre a boca de choque? Então, é bem assim que a coisa
acontece. Blanche tenta de qualquer
forma pedir ajuda: à vizinha, ao médico, ao novo músico que passa a frequentar
sua casa, mas todas as tentativas são em vão; o fato de ela ser paraplégica e
de Jane controlar todas as coisas que
acontecem na casa dificulta qualquer tentativa de livrá-la das torturas da
irmã.
E, além de tudo, Jane decide veementemente voltar a ser o
que era quando criança: Baby Jane.
Mesmo estando velha, acabada, defasada (vocês vão ver que há cenas em que ela
está tão péssima, que eu não me surpreenderia se ela entrasse em
decomposição naquele exato momento), ela volta a se vestir com roupas iguais as
que usava quando fazia sucesso, e volta também a dançar e cantar como fazia em
seus shows – mas, dessa vez, com uma voz de gralha horrorosa, que você não sabe
se assusta ou se ri quando ouve. Ela vai passar por cima de tudo e de todos pra
alcançar seu objetivo e voltar a ser Baby
Jane – ela não mede as consequências e, com sua mente tão perturbada como
está nessa altura da trama, qualquer ato cruel passa a ser, ao ver dela, um ato
normal.
Com certeza esse é um dos melhores
filmes já criados no cinema. É surpreendente, tanto o decorrer da película,
quanto o final, por isso acredito que nenhuma pessoa do mundo deve deixar de
vê-lo.
Resenha por: Rebeca Reale
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